sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um mimo!

Augusto Alberto

Por uma razão, que pouco faltou para ser trágica, há uns dias atrás, tive de me servir, mais uma vez, do centro de saúde de Vila Nova de Foz Côa, situado num edifício muito antigo e apalaçado. Deste centro de saúde, sempre que o utilizo, fica-me o sublime empenho e simpatia de todos os profissionais, porque quanto aos meios, tudo como desde há muitos anos: confrangedor. Contudo, a cidade vai ter um belíssimo museu de arte rupestre, construído num miradouro notável, com vistas soberbas para os rios Côa e Douro e respectiva confluência. Aconselho vivamente a visita, porque o lugar é de perdição. Quer isto dizer, que assim a frio, na cidade, a cultura parece aparentemente estar bem, mas não tomemos esta questão em particular, pelo todo, mas quanto aos cuidados básicos de saúde, uma angústia. É comum, quando a coisa é para o grave, o doente ou o acidentado ser enviado para a cidade da Guarda, por estrada muito tortuosa na sua maior parte, e nunca menos de 1 hora, mais outra hora para a volta.
Não estamos pois num deserto fisicamente considerado, mas a desconsideração pela população, é um dado adquirido.
Poderemos ser levados a considerar que coisa assim está muito perto de qualquer país das bananas e que no mundo civilizado pior é difícil. Aparentemente...só aparentemente.
“Nos Estados Unidos as prisões são sítios terríveis. Não têm um ambiente saudável, sanitário, produtivo. Mas os pobres têm tão poucos serviços que há quem ache que estar na prisão é mais tolerável do que estar lá fora. Isto nota-se, de forma particular, nos cuidados de saúde. Os presos, pela constituição, não podem ser sujeitos a um castigo cruel. Isso significa que têm direito à saúde. Ora esse direito não se aplica a quem não está preso. Não há um serviço público de saúde. Há um sistema muito caro. Há um problema enorme. Quem tem um grave problema da saúde pode ter vantagens em estar preso. O sistema de saúde na prisão é terrível, mas é melhor do que nada.”
Este é um pequeno texto, que não é meu, retirado de um trabalho de Megan Comfort, realizado no contexto de uma Ong, a centerforce.
Ora aqui está como é preferível percorrer 200 km, mesmo em estrada tortuosa, para ter médico e assistência, mesmo em situação delicada, do que em país tecnologicamente avançado, mas em que de um momento para o outro, se pode acabar numa valeta ou debaixo da ponte, ou então, o melhor é dar uns tiros, nem que seja para o ar, acabar na prisão, porque tem a vantagem de ter um serviço de saúde mínimo. Um paradoxo! Para além deste relato ser um mimo, ainda direi que com papas e bolos se têm enganado os tolos, porque ainda há muita gente a julgar que se pode cruzar democracia com uma vida privada de bens públicos.
A propósito desta matéria, sempre quero aqui relembrar as dezenas de doentes com problemas de visão que foram até Cuba e de lá vieram tratados. E por fim, nesta pátria onde algumas valências entraram quase em falência, lá se foi também à ilha buscar umas dezenas de especialistas em saúde pública, para suprir esta valência. E mais virão, se for preciso. Quem diria! Mas também já se sabia, porque quando foi do desastre de Orleans, já Fidel tinha oferecido aos Estados Unidos, apoio médico.
Só me resta desejar que Cuba possa continuar, desse modo, a tratar do seu Povo, e de quando em vez, dar uma mão, mesmo a democracias consolidadas e economicamente como se diz, mais ricas…, e continue a resistir às quantidades de parvos que por ai andam.

2 comentários:

Anónimo disse...

Temos agora os médicos Cubanos que vieram para Portugal, porque é que não os foram buscar a outro País?
Se calhar levavam com os pés, diziam-lhes que se queriam médicos que os formassem.
Mas em Cuba pareçe ser diferente.
Porque será?

Guimaraes disse...

Amigo Augusto Alberto

Conheço perfeitamente a situação geral dos centros de saúde dos distritos da Guarda e Aveiro. Durante sete anos (1985 - 1991)visitei-os semestralmente em apoio técnico.
Pelo que diz, a situação que então referi nos meus relatórios mantém-se.
Diferenciavam-se positivamente os de Meda e Pinhel, que tinham sido pagos pela cooperação sueca.
Aprendi a respeitar muito os profissionais que lá trabalham que, contra toda a falta de meios, fazem "milagres" e "filhozes de água" rodos os dias.