quarta-feira, 25 de novembro de 2009

25 de Novembro de 1975: a morte do 25 de Abril


Muitos mistérios e dúvidas prevalecem ainda acerca destes acontecimentos. Dúvidas se foi um golpe de Direita ou de Esquerda. E que interessa que se mantenham integrados no velho e arreigado vício de lavar a História. De a compor. Já que há tentativas de Direita para fazerem crer que foi um golpe de Esquerda.
Estes tristes acontecimentos vêm no seguimento do que se passou durante o chamado “Verão Quente”, em que toda a Direita (desde o PS ao ELP-MDLP, o braço armado da Direita) se não cansou de desestabilizar com acções terroristas desde o incêndio à embaixada espanhola, passando pela rede bombista e pelos assaltos às sedes de partidos de Esquerda, nomeadamente do PCP.
Mas não admira. Não só porque a luta pelo poder envereda, não raramente, por este tipo de violência, mas também porque tendo Portugal saído de uma ditadura fascista teve também a estranha característica de nunca ter havido a desfasciszação do regime. Quer dizer, as suas forças mantiveram-se intactas. Não houve julgamentos, nem culpados nem condenações. Muitos crimes ficaram impunes.
Este acontecimento antecedeu as eleições. Mas mesmo assim não resisto a fazer um paralelismo com o facto de que sempre que a Esquerda ganha eleições sucede-se ou uma guerra civil ou um golpe de estado. Foi assim em Espanha ou no Chile. Mais recentemente nas Honduras. Ou as tentativas, por enquanto fracassadas, na Venezuela. Para citar só alguns exemplos.
Numa resenha histórica sobre o 25 de Novembro publicada pelo jornal “O público”, domingo passado, não vislumbrei nenhuma acção menos “democrática” levada a efeito pelas forças de Esquerda. Pelo contrário, acções terroristas perpetradas pela Direita como o bombardeamento da Rádio Renascença são elucidativas. A fuga dos seus dirigentes para o Porto, onde uma manifestação de apoio ao governo culminou com um assalto à sede da União dos Sindicatos, denuncia claramente as intenções, pouco democráticas, da Direita.
Enquanto isso, num debate na televisão Mário Soares acusava Álvaro Cunhal e o PCP de quererem instaurar uma ditadura. Faz lembrar a estratégia do “mundo civilizado” para invadir o Iraque sem escandalizar muito a opinião pública: a referência até à exaustão de uma mentira. A de que Saddam possuía armas de destruição maciça.
Prevalecem muitos mistérios. Hão-de prevalecer.
Mas não será à Esquerda que isso interessa.
Entretanto, lá temos de nos amanhar com a "democracia" parida em Novembro.

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