quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Que beleza é o Haiti

Augusto Alberto


O mundo foi informado do terrível tremor de terra que se abateu sobre o Haiti. Muita gente a chorar e muitas dessas lágrimas a serem de crocodilo, porque durante anos comeram a carne àquele povo, que hoje não passa de um esqueleto.
Neste momento de tragédia será bom avivar memórias e a história, porque a amnésia e o branqueamento são um dos modos do embuste que vai levando a dianteira.
O Haiti, colónia espanhola depois francesa e a seguir, protectorado americano, sempre foi um lugar de escravidão e nunca foi questão que preocupasse as democracias e os democratas. Durante muitos anos, governou por lá um tipo carniceiro e sanguinário, do pior que a humanidade já viu e teve. Um tal, Papa Duvalier, ou papa Doc, que foi substituído pelo seu filho, baby Doc, que deu continuidade à saga e a seguir, por um padre católico, Bertand Aristide, que continuou a carnificina e a miséria. Esta gente sempre foi coberta pelo império e sobreviveu montada numa milícia, talvez a mais cruel que correu em toda a América, Caraíbas e Antilhas, os tontons macoutes, que nunca atormentou os mais lúcidos democratas.
Sabe-se que o Haiti é uma notável sequela, mística, social e política do poder de chumbo e da canhoneira, para poder estar a salvo de qualquer ousada experiência. Uma nação paupérrima. Com uma taxa de analfabetos na ordem dos 50% e com uma esperança de vida mitigada e que ainda há poucos anos esteve à beira da implosão como estado e nação.
Evidentemente que as democracias e os democratas nunca por ali viram nada de anormal e a pedir remédio. Medrosos, dir-se-á que o Haiti sempre esteve longe dos olhos e, por isso, longe dos corações.
Entre esses democratas, cito aqui o Doutor Mário Soares, esse dandi da democracia, que naquela zona, só dislumbrou uma ditadura. A dos barbudos, liderados por Fidel, Camilo e Che. Aliás, Fidel tornou-se-lhe o ditador de culto. A questão é que o que separa Cuba do Haiti, é o mesmo que separa o calor do frio, e o Doutor Mário Soares dos verdadeiros democratas.
Esse Doutor Mário Soares, homem de vários sítios, opinador e escrevinhador de regime e por isso, muito requisitado, ainda que na maior parte das vezes, só diga banalidades, que gere uma sua fundação a quem o estado português de volta e meia aguenta e amigo de gente especialista em arrear esperanças em troca dos mais cruéis e sanguinários regimes que a história regista, como no caso do Haiti, mas também o homem que conseguiu, sabe-se lá de que modo, descarregar dos escaparates das livrarias um célebre livro, “contos proibidos, memórias de um P.S. desconhecido”, escrito por um amigo, que foi do peito, Rui Mateus, que bem o conheceu e por ventura, conhece, fica, mais aqueles democratas que por ele nutrem uma militante ternura, desafiados, neste momento de dor, a tomarem o avião e aterrarem em Port-au-Prince, para ver que beleza é o Haiti.

3 comentários:

Marreta disse...

Belo post, para se compreender que Haiti, para além do sismo, é sinónimo da pior porcaria que a Humanidade foi capaz de criar... e aguentar. E a outra metade da ilha, também não anda muito longe.

Saudações do Marreta.

samuel disse...

Toda a gente descobriu agora o Haiti. Infelizmente só acordam com as tragédias. E mesmo assim...

Abraço.

dilita disse...

Para os menos informados o Haiti do antes terramoto,era o Paraíso...
pela sua beleza,secalhar até era,mas só para alguns.Agora com a tagédia conhece-se a verdade,a desgraça dum povo que(ironia do destino)até era alegre,mesmo vivendo tão pobre.
Gostei muito do que escreveu!