quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A revoada

Augusto Alberto

Há dias ouvi um colossal desabafo de um homem habituado a duras batalhas, num daqueles programas vespertinos que passam diariamente na TV. Aqueles onde as pessoas desabafam sobre o que lhes vai na alma. E este homem, pela forma como se expressou, não deixou dúvidas. Além de estar cheio, também sabe o que quer. Agucei o ouvido à voz farta da choldra, que deixou no ar um mau presságio. A “cachopa” de serviço mais o seu convidado, um daqueles economistas com mente brilhante, que tem contribuído para comermos o pão que o diabo amassou, ficaram vivamente incomodados, porque no fundo, quem sabe? E o que disse esse lúcido homem? Está a chegar o dia em que as coisas vão suceder como sucederam com Luís XVI, que deixou o povo enrolado na fome e na descrença, porque foi incapaz de chocar com os interesses do clero e da nobreza. Uma coisa saída assim a frio e de rompante, só podia gelar quem estava a conduzir o programa, confiante que o povo dos atavismos, não será capaz de dar um pinote. Continuará pobre e alegre.

 Mas é bom que as “cachopas” de serviço se habituem, e os economistas aprendam bem a tabuada, porque as coisas estão de encher, e de volta e meia, alguém, até sermos muitos mais, vai destoando no país que parece do faz de conta.
Como se sabe, a Luís XVI, a cabeça foi posta debaixo da guilhotina e as massas vieram à rua. Sabemos de ciência feita que a choldra tem horror às revoadas. Mas de qualquer modo que se cuidem aqueles que têm espalhado o mal e a caruma, porque quem sabe? Às vezes, por detrás de uma fraca moita, salta um bom coelho. Imaginemos um inesperado movimento social, crescido assim de rompante e a passar por entre os dedos da choldra? Ainda há pouco comemoramos o 1º de Novembro de 1640, e já nessa altura se dizia que o povo era manso, mas depois a cabeça de um tal de vasconcellos foi atirada para a rua, até ser roída pelos cães. E noutra ocasião, sem se saber como, saiu à rua o inesperado e descontrolado Buiça. De todo o modo, até lá, questões importantes se colocam, para que não haja enganos. Quem será o nosso Luís XVI, e depois, pior do que a cabeça da corte, é a choldra, que rodopia sem cessar à conta do orçamento, avençada e opinadora. Sempre ficam ainda a faltar duas questões fundamentais. Sabe-se que a corte é feita também de belas e etéreas mulheres. E em corte que se preze, não há uma, nem duas, são muitas mais. E então, outra pergunta se coloca: a de saber quem fará de Maria Antonieta?
E para acabar, fica a mais preciosa. E depois o que fazer?
Calma, porque estamos ainda, aqui, no texto da utopia, para já. Por isso, nada de alarmismos.

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