quarta-feira, 2 de março de 2011

Carrega na pedra para baixo



Augusto Alberto

A WikiLeaks, desta vez utilizando o semanário Expresso, deu-nos notícias espessas. Que só nos podem envergonhar, evidentemente. Nesta matéria só tenho uma dúvida. É se o “espesso” consegue ir para lá do chinelo. Quer dizer, se o “espesso” consegue confessar pecados que estão para lá das administrações socialistas, porque também o Partido Social-Democrata, do patrão Balsemão, foi governo da nação.
Mas deixem-me dizer que também eu, antes da WikiLeaks, tive acesso a outros telegramas. E que telegramas são esses que a WikiLeaks não tem? Os seguintes: “ …na criação de novas estruturas, à semelhança do que se praticava na Holanda e na Inglaterra, estaria a garantia de alguma salvação para o império português”. Isto foi o telegrama de Padre António Vieira enviado ao rei de Portugal no ano de 1671. E na sequência, o rei mandou reunir as cortes, pediu ainda a opinião aos Bispos e Universidades, que se demonstraram desfavoráveis à proposta, porque santa inveja, isso permitiria aos endinheirados cristãos novos, escorraçados pelos padres, de voltarem à nação. “ E entretanto, ontem, na Rua de…caiu inanimado de fome um individuo bem trajado. Conduzido para uma botica próxima, o infeliz revelou toda a verdade – era o embaixador português. Deram-lhe logo bifes. O desgraçado sorria, com lágrimas nos olhos”. Este foi um telegrama de Eça de Queirós, publicado em 1890, nas Farpas. É quase o que se passa hoje com os actuais funcionários diplomáticos na nossa embaixada na Suíça, que parece, também correm famintos e envergonhados e por isso, como sugere Eça, dêem-lhes menos títulos e mais bifes. E ainda nos disse que: - “sua majestade a rainha passeava no Aterro. Um mendigo vem junto dela e pede-lhe uma esmola. Um polícia corre e prende o mendigo. O desgraçado, retido todo o dia na esquadra policial, com fome e frio, tem uma dor. Foi necessário mandá-lo para o hospital. Não se sabe ainda se o fuzilarão…Sua majestade, cujo vestido de veludo ornado de peles era perfeito, continua serenamente na serenidade da tarde”. Porra, hoje, há por cá quem vista “prada” ou “armani”. Quase tal e qual.
 
Lendo com alguma distância o que foi dito, sempre digo que pouco é novidade. Gente esperta. Sentada à espera de água de coco, metidos a doutores, como esse Rui Machete, corrido por vaidade e peculato, da Fundação Luso-Americana. Mais um do séquito do Cavaco. Mais Rainhas, Reis, Ministros, padres, banqueiros, alguns intelectuais, nunca quiseram, nem querem que o país mude. Pelo que só me resta concluir: sendo a coisa endémica, a pátria sempre esteve entregue, e continua, a elites de fancaria, que têm uma especial habilidade para puxar o saco. Não se esqueçam que um dos figurões da praça é conhecido pelo “bolsa na mão”. E infelizmente, este povo amante das coisas divinas, que há muitos séculos, como diz ainda Eça no telegrama, “tem um clero que carrega na pedra para baixo”, eu acrescento, mais as suas elites financeiras, económicas, politicas e alguma elite intelectual, utiliza de 4 em 4 anos o seu votinho para carregar ainda mais.
E as elites da caca agradecem. Evidentemente.

1 comentário:

João Henrique disse...

retrato a preto e branco, de uma realidade que infelizmente se vai mantendo neste País de brandos costumes.

Um abraço.