terça-feira, 5 de abril de 2011

Os descamisados

Augusto Alberto

Falar de futebol, em regra, é dar uso à irracionalidade. Mas, para os devidos efeitos, apetece-me falar das eleições para a direcção do Sporting Clube de Portugal, de um modo que não compagina com a visão ardente com que se avalia o futebol. Vendo as imagens da tumultuosa madrugada, na ressaca dos resultados eleitorais, fiquei com a sensação de que aquele clube padece de séria doença, ainda que o remédio para a atalhar, esteja contudo ali à mão.

As imagens vistas fazem-me lembrar um tempo em que na Argentina, carregada de populismo, medrava um movimento, estruturado e ideológico, que seguia Evita e que dava pelo nome de “os descamisados”. Hoje, dando as óbvias distâncias relativamente aos operários vexados da Argentina, a quem se destina a semântica, os que aclamam Bruno de Carvalho, que se diz vítima de uma usurpação, é pelo contrário, gente perigosa, que à míngua de alegrias, se coloca numa espécie de orfandade e limbo, que suporta o lastro que lhes permite todo o tipo de bravata e arruaça. Bruno de Carvalho, que arrecadou simpatia e se acha roubado por um aparelho bem dirigido e montado, tem todo o direito de contestar judicialmente o resultado eleitoral, mas em todo o caso, melhor seria que tivesse a coragem de se afastar publicamente daquela turbamulta, a não ser que também tenha medrado ali, porque aquele pessoal não conhece o dono, apesar de o ter seguramente, e age segundo movimentos sincopados de uma matilha. Bruno de Carvalho deveria lembrar-se do velho ditado que diz: - quem com ferros mata, com ferros morre. Às suas primeiras dificuldades, os “descamisados” de Alvalade, em uníssono, virar-se-ão contra o candidato que procura ter ali uma espécie de exército fiel, para tentar contrariar a azia que resultou de uma putativa usurpação. Seria bom, por exemplo, que Luís Duque dissesse como teve de recuar quando se propôs contratar José Mourinho, ou Paulo Bento das razões que contribuíram decisivamente para a sua saída do clube. Evidentemente que aquele pessoal, em rede com o que de pior enche alguns estádios da Europa, infiltrados por movimentos da suástica, só não acaba neste pobre país, porque tanto o poder desportivo como o politico, sobretudo este, lhe acha algum préstimo. Que não se duvide, no momento em que o poder político se vir desengonçado e acossado, aquela matilha será atiçada contra quem vai reclamar simplesmente por dignidade. Na Grécia, no auge do descontentamento, que não pára de se fazer ouvir, lá estava a polícia, em estruturado conúbio, para gizar a violência sobre quem unicamente reclamava pão. Este não é um mundo para distraídos, nem para anjinhos. É o mundo dos que tem centros bem estruturados e com bem oleada máquina de propaganda, com um único sentido, levar-nos a comer o pão que o diabo amassou.
Lamento que o Sporting Clube de Portugal, que formou atletas que muitas vezes fizeram que uma lágrima nos rolasse pela pele, esteja preso de gente, que a não ser combatida, fará fracassar em definitivo o clube, sem o menor pingo de remorsos. Porque ali está, não uma estratégia de amor, mas uma estratégia para aterrorizar quem quer que passe, por ali, por Alvalade, ou por uma qualquer avenida.

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