quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os Ovimbundos falam umbundu



Os Ovimbundos, ou “povo do nevoeiro”, também conhecidos por umbundus, por ser o umbundu a sua língua, constituem mais de um terço da população angolana, sendo o grupo cultural mais numeroso. Ocupam as regiões do planalto central, embora muito provavelmente sejam oriundos das regiões mais a norte.
Entre outros dos principais grupos etnolinguísticos angolanos encontram-se os Bakongos, do norte, os Quimbundo, da região de Luanda ou os lunda-quiocos, estes do leste do país e conhecidos pelo seu talento artístico.
Durante a guerra de libertação os três movimentos mais destacados tinham mais implantação nuns ou noutros grupos culturais. Assim, o MPLA identificava-me muito mais com os quimbundos, a FNLA com os Bakongos e a UNITA, muito porque Savimbi era ovimbundo, com este grupo do planato.
Penso que, de entre todos, o mais transversal a todos os grupos étnicos terá sido o MPLA, muito possivelmente o movimento com uma dinâmica mais nacional, e nacionalista, já agora. A UNITA nunca se livrou de uma característica tribalista que não se coadunava com uma guerra de libertação nacional. Seria, portanto, mais fácil para o MPLA conseguir simpatizantes fora das suas zonas de influência, do que qualquer dos outros movimentos, bem como lutar por uma identidade nacional.
Não cheguei a estas conclusões através de pesquisas ou de leituras, foi pela vivência.
E vem tudo isto a propósito do que acabo de ler num recente livro sobre a História do PCP na Revolução dos Cravos, com este mesmo título. Penso que será gralha, mas leio isto:
“O MPLA tinha muita força na capital de Angola, Luanda, e tinha uma liderança “urbana, esquerdista e racialmente mista”. As suas raízes eram cerca de 1,3 milhões de umbundos que habitavam em Luanda e no interior. Tinham o apoio da União Soviética. A UNITA, apoiada pela África do Sul e Estados Unidos, liderada por Jonas Savimbi, tinha a sua base em dois milhões de ovimbundos do planalto central de Benguela”.
Portanto, gralha ou não, o preço a que estão os livros devia proteger-nos de semelhantes enganos.
Ainda sobre os ovimbundos, e só para terminar, o historiador René Pélissier, na obra “História de Angola”, escrita com Douglas Wheeler, escreve:
“O nacionalismo ovimbundo não parece ter tido o mesmo impacto sobre as massas rurais que os movimentos bacongos ou até o MPLA, orientado para os quimbundo”.

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