sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Efemérides

Augusto Alberto

Disse um padre católico de um poeta: “é mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”. E por causa de ser poeta e possuir perigosa caneta, foi assassinado com um tiro pelas costas na Serra Nevada, no dia 19 de Agosto de 1936, faz hoje 75 anos. Garcia Lorca, poeta, morto às mãos do fascismo espanhol, o prenúncio da segunda guerra mundial que liquidou cerca de 50 milhões de pessoas e destruiu milhares de infra-estruturas. Cerca de 30 milhões na União Soviética, 1 milhão na cidade de Leninegrado. Só no maior cemitério da cidade, 700 mil estão em vala comum.

Com efeito, em 1989 Leonard Bernstein dirigiu a Filarmónica de Berlim, para celebrar o desmantelamento do “muro”, que se queria fosse o equilíbrio entre uma experiência social e politica nova contra a soma de uns tipos vencidos e vencedores, que cedo enrolaram os trapinhos e passaram de desavindos a casamenteiros, a provar que no capital não existem fracturas ideológicas mas simplesmente diferenças de forma. Infelizmente, a nova experiência social e política não seguiu o seu curso, muito por culpa própria, porque se perdeu em batalhas e contradições avulso. Como convém aos vencedores, o muro é hoje o ícone do anticomunismo. Mas que se cuidem, porque o mundo dá muitas voltas e para a derradeira derrota, falta o quase.
A propósito, há muitos anos, uma televisão independente alemã chamou-me a atenção para uma entrevista a um vendedor de armas, alemão, sentado confortavelmente na sua poltrona. De chofre o repórter perguntou-lhe: “o senhor não sente remorsos pelas crianças que morrem com o fogo das armas que vende?” O “democrata” alemão, não se desuniu e respondeu: “sabe, infelizmente faz parte da regra do jogo”. Grande porcalhão! E hoje, sabemos que bancos ingleses, Lloyds, TSB, Barclays, HSBC, resgatados da falência com dinheiros públicos, investem em empresas de armamentos, no caso, em empresas que fabricam bombas de fragmentação. A mim, algo me diz que tanto o porcalhão do alemão, negociante de armas como os porcalhões dos banqueiros e accionistas necrófilos dos bancos Ingleses, que investem em bombas de fragmentação, estiveram em Berlim, em 1989, a assistir ao solene concerto dirigido por Leonard Bernstein e tocado pela filarmónica local.
Sabemos, hoje, de fonte segura, que há muros que são levantados para gáudio dos que continuam a viver dos estilhaços e sangue alheio. Por isso, se me perguntarem se um muro faz falta, direi, um qualquer, nem que seja um forte muro cultural que nos separe destes bandidos e porcalhões.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Excelente texto!

Um abraço.