quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ponte de Brooklyn

Augusto Alberto

Jimmy Hoffa, líder sindical, enfrentou o clã Kennedy e poderosos interesses. Foi preso e indultado e desapareceu sem que se saiba como e para onde. E milhares de americanos, também temerários, há semanas, desafiam Wall Street. Mas foi preciso chegar ao limite, para sabermos, por cá, que estas coisas se estavam a passar, porque a nossa informação, escrita e falada, é canina e tem por bem nunca morder na mão que lhe chega as papas. Tenho à minha frente precisamente uma foto em que duas jovens são levadas pelos pulsos, após serem encurraladas na ponte de Brooklyn, para de uma penada serem presas por obstrução ao bom funcionamento da ponte e da democracia. Alguns já dizem que estamos perante a primavera americana, um pouco à laia do que se diz dos movimentos árabes. Cuidado, porque as coisas por ali piam mais fino. Em breve chegarão notícias a desconsiderar socialmente os manifestantes, como é usual, para fazer cair o pano e o pau sobre os “insubordinados”.

Pela ponte de Brooklyn passam com regularidade automóveis. BMW, também, conduzidos por gente fina que veste Hugo Boss. Não é novidade que muitas das empresas democráticas de hoje colaboraram com o esforço de guerra alemão, e dele se serviram, na esperança de que o fascismo alemão sitiasse os povos e os fizesse prisioneiros, para os ter à mão como boa matéria escrava. A BMW fez máquinas de guerra e Hugo Boss talhou os fardamentos para o exército fascista. Democratas, os herdeiros, hoje, lamentam. A ponte de Brooklyn é longa, mas mais longo é o cinismo.
O que dizer, então, da democracia saída do pós guerra na Europa e a única que conhecemos? Revanchista e sempre igual, como o velho ferro da ponte de Brooklyn. Mais não fez e faz, do que reabilitar sacanas e assegurar o embaratecimento dos povos, respaldados pelo voto popular. Por Wall Street e Suíça, por exemplo, campeiam manobras ilícitas, à custa do empobrecimento de milhões pessoas. É por estes factos que prefiro a democracia que regularmente só elege os melhores para representar os seus concidadãos, depois de uma longa e rigorosa escolha. Essa é a democracia de um pobre e resistente país, que tem como sua, uma de entre várias consignas: - hoje, milhões de crianças espalhadas um pouco por todo o mundo, irão deitar-se com fome, (acrescento eu, algumas serão portuguesas e americanas, quem sabe, se também do bairro de Brooklyn), mas nenhuma delas é cubana.

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