terça-feira, 18 de setembro de 2012

Histórias paraolímpicas (IV)


Augusto Alberto

O comboio da nossa dependência

Desejo experimentar a linha Jubillee, de comboio e metro de superfície, que serve o aeroporto de Stratford e o funcional complexo Olímpico de Londres, ambos erigidos no círculo do mesmo nome, leste de Londres. Dirijo-me ao centro de exposições Excel, que recebeu as competições paraolimpicas do Boccia, Voleibol e Esgrima, num comboio muito cómodo e eficiente, logo achei. E muito curioso, a composição não precisa de maquinista, porque tudo é automático. Logo disse, aqui o sindicato dos maquinistas, (que em Portugal é instituição não afecta à Intersindical, se não sabia, fica agora a saber), não poderá evidentemente decretar greve. Com muita atenção, fui descobrindo o roteiro das estações, não fosse haver engano. E nessa preocupação descobri uma chapinha a identificar o construtor das carruagens, que  perturbou: “Bombardier”!
A empresa a quem foi permitida a entrada neste país, com uma única finalidade, acabar com a “Sorefame”, a nossa muita experiente empresa de construção de material circulante ferroviário, atirando-nos, também nesta área, para a dependência. Queiremos nós construir, agora ou no futuro, uma carruagem para os nossos caminhos-de-ferro ou metropolitano, saberemos que já não pode ser construída em território nacional, mas poderá ser servilmente encomendada à canadiana “Bombardier”. Falar da nossa crise, é antes de mais falar destas sinistras opções. E elas têm rostos. Desde logo, os governos de há 35 anos, liderados pelo Partido Socialista e o Dr. Mário Soares. Depois, com Cavaco. Sócrates e agora os embonecados, fascistas, baronesas e barões do CDS e PPD. Ocorre-me ainda, que no tempo do fascismo, os homens mais ricos de Portugal, eram da indústria, muito repressivos, evidentemente, mas hoje, os homens mais ricos, são cangaceiros e merceeiros. E por isso, de momento, a nossa dependência económica e política é brutal.
Mas não finja, meu caro, que nada é consigo, porque foi exactamente o senhor, que apesar de ser chamado à razão, permitiu que “democratas” fizessem de Portugal uma pátria sem as necessárias alavancas produtivas, remetendo-nos para o actual estado de pobreza. É sempre possível colocar o deficit a zero, empobrecendo, como determina o pulsar fascista e liberal, que por ai vai. Mas também é verdade que nunca é tarde para procurar novo rumo.
Tal como eu, que não me enganei nas estações da linha de Stratford e cheguei a salvo às competições do Boccia, a tempo de ver Portugal ganhar a medalha de prata por equipas, que muito me honrou, na área da deficiência mais profunda, e as competições de Esgrima, que infelizmente não temos na área do desporto adaptado, e depois regressar em paz à cómoda Aldeia Olímpica, após um dia bem servido de emoções. Fique bem. Fique pois com a Bombardier, que lhe foi servida e o vai comer, até os ossos.

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