Augusto Alberto
O comboio da nossa
dependência
Desejo experimentar a linha Jubillee, de comboio e metro de
superfície, que serve o aeroporto de Stratford e o funcional complexo Olímpico
de Londres, ambos erigidos no círculo do mesmo nome, leste de Londres.
Dirijo-me ao centro de exposições Excel, que recebeu as competições paraolimpicas
do Boccia, Voleibol e Esgrima, num comboio muito cómodo e eficiente, logo
achei. E muito curioso, a composição não precisa de maquinista, porque tudo é
automático. Logo disse, aqui o sindicato dos maquinistas, (que em Portugal é
instituição não afecta à Intersindical, se não sabia, fica agora a saber), não
poderá evidentemente decretar greve. Com muita atenção, fui descobrindo o
roteiro das estações, não fosse haver engano. E nessa preocupação descobri uma
chapinha a identificar o construtor das carruagens, que perturbou: “Bombardier”!
A empresa a quem foi permitida a entrada neste país, com uma
única finalidade, acabar com a “Sorefame”, a nossa muita experiente empresa de
construção de material circulante ferroviário, atirando-nos, também nesta área,
para a dependência. Queiremos nós construir, agora ou no futuro, uma carruagem
para os nossos caminhos-de-ferro ou metropolitano, saberemos que já não pode
ser construída em território nacional, mas poderá ser servilmente encomendada à
canadiana “Bombardier”. Falar da nossa crise, é antes de mais falar destas
sinistras opções. E elas têm rostos. Desde logo, os governos de há 35 anos,
liderados pelo Partido Socialista e o Dr. Mário Soares. Depois, com Cavaco.
Sócrates e agora os embonecados, fascistas, baronesas e barões do CDS e PPD.
Ocorre-me ainda, que no tempo do fascismo, os homens mais ricos de Portugal,
eram da indústria, muito repressivos, evidentemente, mas hoje, os homens mais
ricos, são cangaceiros e merceeiros. E por isso, de momento, a nossa
dependência económica e política é brutal.
Mas não finja, meu caro, que nada é consigo, porque foi
exactamente o senhor, que apesar de ser chamado à razão, permitiu que
“democratas” fizessem de Portugal uma pátria sem as necessárias alavancas
produtivas, remetendo-nos para o actual estado de pobreza. É sempre possível
colocar o deficit a zero, empobrecendo, como determina o pulsar fascista e
liberal, que por ai vai. Mas também é verdade que nunca é tarde para procurar
novo rumo.
Tal como eu, que não me enganei nas estações da linha de
Stratford e cheguei a salvo às competições do Boccia, a tempo de ver Portugal
ganhar a medalha de prata por equipas, que muito me honrou, na área da
deficiência mais profunda, e as competições de Esgrima, que infelizmente não
temos na área do desporto adaptado, e depois regressar em paz à cómoda Aldeia
Olímpica, após um dia bem servido de emoções. Fique bem. Fique pois com a Bombardier,
que lhe foi servida e o vai comer, até os ossos.
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