Augusto Alberto
Khumalo
Vinha calma e a esquadrinhar. Tudo era quase novo. Falo de
Sandra Khumalo, uma mulher negra sul-africana, que um acidente de automóvel
atirou para uma cadeira de rodas na condição de paraplégica e que descobriu no
desporto e no remo, o engenho para viver. Descoberta para o remo adaptado por
um colega italiano, na última oportunidade, em Belgrado, conseguiu a
qualificação para os Jogos Paraolímpicos. Sandra é uma bonita mulher negra,
alta e espadaúda, com uma envergadura acima de um metro e noventa centímetros,
que lhe dará oportunidade de obter, no futuro, reconfortantes alegrias.
Contudo, o que pretendo aqui revelar não foi o seu êxito paraolímpico,
mas o facto de Khumalo ser uma mulher de 30 anos, mãe de 2 filhos, o mais novo
quase a chegar aos dois anos e ter tido a coragem de se libertar de conceitos e
modelos conservadores, e fazer a procura do melhor da sua vida no desporto.
Ainda por cima, escolhendo o alto rendimento. Alguém me disse a propósito desta
minha observação, que por ventura, estaremos perante uma família sul-africana
de boas posses. Acredito que sim, mas também é verdade que mulheres com boas
posses, há-as em muitos locais do mundo, sem contudo, conseguirem a sua carta
de alforria. Desde logo, neste mundo ocidental católico e temente a Deus e
sobretudo, em muitos países muçulmanos, ricos em petróleo e dólares. É o caso
da ditadura, tão ao gosto ocidental, da Arábia Saudita, em que a mulher, mesmo
a mais rica, tem severas restrições sociais e culturais. Desde logo, impedida
de andar destapada na via pública. De tal modo, se decide e são muito poucas,
ter a sua actividade desportiva, fá-lo sempre tapada e em desconforto. Impedida
de conduzir. E impedida de se ausentar sem a companhia do marido.
Khumalo vive numa sociedade ainda muito manietada por
conceitos da menoridade da mulher e tribais, de muito perigoso infantilismo
politico, (o caso recente das minas), e onde de certo ser mulher por completo,
ainda deverá ser uma estucha. Khumalo libertou-se. É mãe de dois meninos que a
visitaram na companhia do marido. E Khumalo teve ainda um grupo numeroso de
apoiantes, muitos, com a bandeira da sua pátria, bem aberta, ou simplesmente
enrolada no corpo. Khumalo ouviu gritos de Sud-África, apesar de ser uma mulher
negra, de homens e mulheres brancas. Mistério? Não me parece, porque de facto,
muito se andou na África do Sul.
Khumalo é uma bonita negra, a quem felicitei, na minha hora
de despedida dos jogos, mesmo sabendo que ela me ganhou, porque chegou à frente
da minha atleta. Mas isso é o que menos conta. O que conta, é que Sandra
Khumalo vai ter o prazer de continuar a fazer o que gosta, ser mãe e remadora
olímpica e para uma negra, é obra. Khumalo, as suas e seus apoiantes,
ensinam-nos, a nós, ocidentais quase tolhidos, que só se anda, andando.
1 comentário:
Aproveito este post para te parabenizar pela excelencia e assertividade dos temas do teu blog. Tenho-o em RSS e leio-o sempre com muita atenção. Um verdadeiro homem do Uige e da Figueira da Foz. estamos juntos!!!
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