segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Histórias paraolímpicas (III)


Augusto Alberto

Crónica de Jogos Cambantes


Estava uma manhã de uma poalha dourada em Londres e eu aproveitei para ir ver, num momento único, um Inglaterra-Argentina, calma, em futebol de sete, para atletas com paralisia cerebral, no contexto dos Jogos Paraolímpicos 2012. Acabou a 1ª parte com a Grã-Bertanha a ganhar por 2 a 1.Contudo, recomeçado o jogo, a Argentina empata e logo se coloca a ganhar. O Lionel, o Vivot, com um pé esquerdo, espécie de colher, marcou de rajada 3 golos e coloca a Argentina na frente. Aos 82’, o Patrick ainda reduz para 3-4 e os britânicos como é hábito, subiram o tom no apoio. Gritos de G.B…G.B…G.B. Contudo, o guarda-redes argentino, que eu não sei o nome, ainda mais cambado, após soberba porrada do central, negrão e grande, da Grã-Bretanha, esteve soberbo e de sonho, impedindo o empate. Mas ainda nos instantes finais, na grande área Argentina, pediu-se penalti, que deu em pequeno sururu, muito ao gosto sul-americano. O árbitro recua no pedido e o público mostra o seu descontentamento, gritando u…u…u, como mandam os sons do futebol na Ilha. O árbitro apita para o final e a Argentina ganha e o povo que enchia o estádio, talvez 10.000 mil, para ver o futebol cambado, (que jeito dava em muitos jogos da liga Nacional), louvou o jogo com palmas e ala que há mais para ver e seguir, ali ao lado.
Fui almoçar e voltei para ver o Brasil-Rússia, na primeira meia-final do torneio paraolímpico. Mas este foi um jogo diferente. Muito açucarado e por isso, majestático. Não vos digo o resultado, porque para aqui não interessa. O que interessa é dizer que as emoções da doçura não se explicam, degustam-se. Por isso, eu que sou um impenitente crítico do futebol como meio de comando das emoções e dos desvios mais canalhas, (foi na ditadura e continua a ser nesta democracia, em que há uns tipos que mandam muitos pagar, sem que se lhes pergunte se estão dispostos, a favor de um punhado de agiotas), estou muito grato a este diferente futebol cambante, que me encheu de emoções, que nunca mais esquecerei.

      Glossário dos sons do futebol na Ilha:
      - Yes – golo
      - Uuu…uuu… – desacordo com a decisão do árbitro.
      - Ooh…ooh… – grande defesa do keeper ou bola na trave.
      - G.B…G.B… – Grã-Bretanha, Grã-Bretanha.
      - E palmas no fim para quem jogou.
    
      Glossário da luta de classes
     – A quem, por cá, arbitra, rouba, esmaga desalmadamente o mundo do trabalho e leva vantagem no jogo da luta de classes, o que chamar? Ímpios! Ladrões! Chulos!
E o que chamar a quem consente e cala há tantos anos? Asno, que nem forças tem tido para espantar, com as orelhas, as moscas que o picam.
E por fim, renovo a gratidão ao futebol cambante, pela possibilidade que me dá de escrever esta crónica, que me permite gritar bem alto, no âmbito da luta de classes: Filhos da puta!

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