Augusto Alberto
Crónica de Jogos
Cambantes
Estava uma manhã de uma poalha dourada em Londres e eu
aproveitei para ir ver, num momento único, um Inglaterra-Argentina, calma, em
futebol de sete, para atletas com paralisia cerebral, no contexto dos Jogos Paraolímpicos
2012. Acabou a 1ª parte com a Grã-Bertanha a ganhar por 2 a 1.Contudo, recomeçado o
jogo, a Argentina empata e logo se coloca a ganhar. O Lionel, o Vivot, com um pé
esquerdo, espécie de colher, marcou de rajada 3 golos e coloca a Argentina na
frente. Aos 82’ ,
o Patrick ainda reduz para 3-4 e os britânicos como é hábito, subiram o tom no
apoio. Gritos de G.B…G.B…G.B. Contudo, o guarda-redes argentino, que eu não sei
o nome, ainda mais cambado, após soberba porrada do central, negrão e grande,
da Grã-Bretanha, esteve soberbo e de sonho, impedindo o empate. Mas ainda nos
instantes finais, na grande área Argentina, pediu-se penalti, que deu em
pequeno sururu, muito ao gosto sul-americano. O árbitro recua no pedido e o
público mostra o seu descontentamento, gritando u…u…u, como mandam os sons do
futebol na Ilha. O árbitro apita para o final e a Argentina ganha e o povo que
enchia o estádio, talvez 10.000 mil, para ver o futebol cambado, (que jeito
dava em muitos jogos da liga Nacional), louvou o jogo com palmas e ala que há
mais para ver e seguir, ali ao lado.
Fui almoçar e voltei para ver o Brasil-Rússia, na primeira
meia-final do torneio paraolímpico. Mas este foi um jogo diferente. Muito
açucarado e por isso, majestático. Não vos digo o resultado, porque para aqui
não interessa. O que interessa é dizer que as emoções da doçura não se
explicam, degustam-se. Por isso, eu que sou um impenitente crítico do futebol
como meio de comando das emoções e dos desvios mais canalhas, (foi na ditadura
e continua a ser nesta democracia, em que há uns tipos que mandam muitos pagar,
sem que se lhes pergunte se estão dispostos, a favor de um punhado de agiotas),
estou muito grato a este diferente futebol cambante, que me encheu de emoções,
que nunca mais esquecerei.
Glossário dos sons do futebol na Ilha:
- Yes – golo
- Uuu…uuu… –
desacordo com a decisão do árbitro.
- Ooh…ooh… –
grande defesa do keeper ou bola na trave.
- G.B…G.B… – Grã-Bretanha,
Grã-Bretanha.
- E palmas no
fim para quem jogou.
Glossário da luta de classes
– A quem, por cá,
arbitra, rouba, esmaga desalmadamente o mundo do trabalho e leva vantagem no
jogo da luta de classes, o que chamar? Ímpios! Ladrões! Chulos!
E o que chamar a quem consente e cala há tantos anos? Asno,
que nem forças tem tido para espantar, com as orelhas, as moscas que o picam.
E por fim, renovo a gratidão ao futebol cambante, pela
possibilidade que me dá de escrever esta crónica, que me permite gritar bem
alto, no âmbito da luta de classes: Filhos da puta!
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