Em 1969, no crepúsculo do
fascismo, tinha 20 anos, participei em Oeiras, terra onde vivia, num enorme
comício promovido pela CDE, no âmbito da eleição de então. Recordo que no
final, o povo cantou a canção heróica “Acordai!, de Fernando Lopes Graça, sob o
poema militante de José Gomes Ferreira.
Desse comício guardo duas
pequenas tarjas, que ficam para memória histórica, e o discurso de Tengarrinha
e Helena Cidade Moura, na exigência de democracia e do fim da guerra colonial.
Em 1974, no dia 25 de Fevereiro, cheguei da guerra, e a 25 de Abril, no Carmo e
no Camões, cantou-se, “O Povo Unido jamais será vencido”, recuperando o grito
de Santiago, na reacção à patada fascista lançada sobre o povo chileno, pelo
império ianque. E no dia 15 de Setembro de 2012, ao cabo de 38 anos, estive na
manifestação dos indignados. Depois fui a Lisboa à grande manifestação da
Intersindical e, por último, desfilei, apesar de não estar desempregado, a
favor do emprego. E de cada vez que saio à rua, dou comigo a perguntar como é
possível que ao cabo de tantos trabalhos, tenhamos de voltar a cantar o poema
heróico e o grito anti-fascista. Que enganos houve?
António José Seguro, se tivesse a
minha idade, talvez tivesse estado, quem sabe, em Oeiras, porque à época a
unidade era relativamente consensual, à volta de uma ideia genérica de
democracia e do fim concreto da guerra, e nesse caso teria também cantado o
poema heróico. Mas hoje, o poema que Seguro poderia ter cantado, terá de ser
cantado no sentido, afinal, de o denunciar. E porquê? Porque Seguro, que não é
imberbe, é só mais um canalha, daqueles que em momentos muito precisos,
aparecem para confundir. Fala de uma revisão da lei eleitoral no sentido de
procurar uma maior aproximação dos eleitos aos eleitores, mas esconde que foram
exactamente “camaradas” seus, alguns dos melhores sucateiros da nossa
democracia, com quem partilhou cama, mesa e roupa lavada, que afastaram os
eleitores dos eleitos. Falo, logo à cabeça, de Mário Soares, o primeiro a
rasurar Abril. Alegre, Barreto, Sócrates, Coelho, Vara, Penedos, Vital, Pina
Moura, Campos e esse incapaz com jeito de beato, Guterres, e ainda muitos
outros.
Por isso, a proposta de Seguro para redução de deputados, não é um
momento de inspirada expiação, mas uma manobra de diversão e uma nova
oportunista missa cantada, com vista a prosseguir a capitulação e do mesmo
passo, cumprir o papel histórico socialista, de funcionar como tampão aos
movimentos sociais e desse modo, tentar impedir o fim da calamitosa
alternância, para que nada mude. A elite baldeia de novo o infame partido de
Seguro, no sentido de baldear a democracia. Mas saibam estes socialistas, que
um dia chegará a conta. Não duvidem. Acordai homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis…
foto: alex campos
1 comentário:
Blog POLITEIA: «E a primeira alternativa que temos de pôr em prática é a erradicação da obscena verba de mais de 9 mil milhões de euros - que está inscrita no Orçamento de Estado - para pagar o serviço da dívida.»
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Precisamos de Manifestações à Islândia: a revolução censurada pelos Media, mas vitoriosa!
Resumo (tudo pacificamente):
- RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA;
- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
[uma sugestão: blog «fim-da-cidadania-infantil»]
- Prisão de responsáveis pela crise;
- Reescrita da Constituição pelos cidadãos (e os partidos políticos têm de se aguentar a um muito maior controlo por parte dos cidadãos).
[nota: dever-se-ia consultar o know-how islandês]
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