Augusto Alberto
Só por sofisma e escrúpulos ideológicos não se tem dado a
atenção merecida ao que dizem os comunistas. Desde logo, ao que dizem desde
Novembro de 1975. Recomendo a consulta dos documentos das duas conferências
económicas, sobretudo a primeira, organizada logo em 1977. Lá estão bem
explicadas as razões que nos trouxeram ao descalabro.
Aliás, a elite surda e a fazerem-nos de parvos, houve um
tempo em que quis decretar o fim da luta de classes e inclusive, fazer passar a
ideia, ainda mais simples, de que não há esquerda nem direita. O que há, são
uns rapazes que fazem assim e outros assado. Com estas aleivosias aqui chegamos
e agora aportamos ao achismo, que é uma espécie de idiotismo elevado à
categoria de expiação política.
Assim, Madame Lagarde acha que demasiada austeridade faz mal
aos países em
resgate. E António José Seguro, acha que precisamos de mais
um ano para podermos por as contas em dia. O Presidente Cavaco também
acha, vejam bem, que é preciso melhor equidade na austeridade, ainda que milhões
de portugueses não tenham sido chamados a gastos excessivos. E por fim, o
antigo Presidente Jorge Sampaio, nulidade em forma de renda de bilros, também
acha que os três partidos do arco da governança, devem juntar esforços e
vontades para renegociar as condições do empréstimo com a troika. É, sem dúvida,
a idiotice elevada ainda à categoria de esperteza, que tem como única
finalidade evitar a mudança.
Infelizmente, como nenhum destes virtuosos deu ouvidos a
quem, a seu tempo, falou verdade, então, voltemos ao achismo. Porque eu também
quero verdadeiramente achar alguma coisa. Que a estes artistas e outros que
conhecemos de ginjeira, seja aplicado o suplício de Elvas. Recomendo, então,
que se ponha em seu lugar o depósito de água do presídio militar, para que esta
gente, por horas diárias, quer faça sol, chuva, frio ou vento, acarte, abaixo
acima, pipos de água que, deitada na grande cisterna, se escapa sem fim. Seria
um bom modo de sentirem na carne o cansaço físico e moral, que trouxeram a
milhões de portugueses. Muitos, exauridos, acabam a expia-la no passo adiante,
na loucura ou na demanda definitiva. O suicídio.
É que em boa verdade, se já não é fácil resistir à direita
pura, mais duro se torna quando a essa direita, em linha com a elite atávica
que cedeu à ocupação filipina e ao tratado de Methween, que nos custou anos de
atraso, se soma toda a sorte de traidores, quer seja de rosto humano, ou
simplesmente, social-democratas.
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