Augusto Alberto
É impressionante como tantos anos após a pinochetada, que
celebrizou o grito de, “o Povo unido jamais será vencido”, a “democracia” tenha
de o recuperar, em Santiago, Atenas, Roma, Lisboa ou em Madrid. Quem diria. Em
Madrid, posicionada entre a multidão e a polícia, esteve a correspondente da
nossa tv pública, Rosa Veloso, que relatou a acção da polícia como
violentíssima. E também nos disse, ainda, que estava ali gente que deixou de
ter dinheiro para pagar a escola, os transportes, para pagar o pão e a
habitação. Ou simplesmente, não tem dinheiro nenhum e se vê forçada a viver na
casa dos pais, que se vêem na contingência de repartir o salário ou a reforma
com filhos e netos. Maria Antonieta, que acabou com o pescoço no cepo, aos que
lhe pediam pão, estribada na arrogância, gritava-lhes, comam brioches. Em
Madrid, usuários unidos, suportados pela monarquia constitucional, enviaram
contra quem pedia pão, os sicários e o bastão.
Mas perguntemos, afinal, o que sucede em Madrid?
Simplesmente o rescaldo de uma derrota. Eu vi fascistas e usurários, de
picareta e marreta em punho a partir o muro de Berlim, enquanto em Moscovo,
estiveram um palerma e um bêbado a abrir mão do património social e histórico
que foi construído, com determinação e resistência. Pois agora aqui está o
rescaldo e a factura. Os usurários comportam-se como um cavalo sem freio, que
galopa feroz e vai deixando gente pelo chão e um rasto de vidas destruídas. Não
querem saber que o cidadão tenha fome. Não querem celebrar o 11 de Setembro de
1973, para que se não lembre como desconstruíram a democracia. Mas celebram
efusivamente a queda do muro, evidentemente, porque isso permitiu, também na
Lusitânia, a alguns usurários, constituir uma engrenagem complicada, com
centros em Belém, S. Bento e proeminentes escritórios de advogados, que se tornaram
numa maravilhosa alcova de negócios, que tem por objectivo, por exemplo,
dizer-nos que não passa de minudência a destruição do nosso aparelho produtivo
ou os abusos no BPN. Nas PPP. Nos negócios do Tridente e do Arpão. No abate
cortês dos sobreiros, que encheram os cofres do CDS/PP. No Freeport, que é
usado por gente do mesmo oficio, para batalhas de alecrim e manjerona, com
vista a marcar putativas diferenças, mas negando o desejo de que saiba afinal
como se violou a lei. E poderem ainda cantar o abuso na “caixa”, de poder
emprestar dinheiro, não para aplicar na actividade produtiva, mas para aplicar
no jogo agiota da bolsa. À semelhança da monarquia vizinha, esta é deriva
lusitana, perigosa sem dúvida, mas a quem falta, comparativamente e por agora,
uma variável. Mas não se distraia.
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