quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sicários


Augusto Alberto

É impressionante como tantos anos após a pinochetada, que celebrizou o grito de, “o Povo unido jamais será vencido”, a “democracia” tenha de o recuperar, em Santiago, Atenas, Roma, Lisboa ou em Madrid. Quem diria. Em Madrid, posicionada entre a multidão e a polícia, esteve a correspondente da nossa tv pública, Rosa Veloso, que relatou a acção da polícia como violentíssima. E também nos disse, ainda, que estava ali gente que deixou de ter dinheiro para pagar a escola, os transportes, para pagar o pão e a habitação. Ou simplesmente, não tem dinheiro nenhum e se vê forçada a viver na casa dos pais, que se vêem na contingência de repartir o salário ou a reforma com filhos e netos. Maria Antonieta, que acabou com o pescoço no cepo, aos que lhe pediam pão, estribada na arrogância, gritava-lhes, comam brioches. Em Madrid, usuários unidos, suportados pela monarquia constitucional, enviaram contra quem pedia pão, os sicários e o bastão.
Mas perguntemos, afinal, o que sucede em Madrid? Simplesmente o rescaldo de uma derrota. Eu vi fascistas e usurários, de picareta e marreta em punho a partir o muro de Berlim, enquanto em Moscovo, estiveram um palerma e um bêbado a abrir mão do património social e histórico que foi construído, com determinação e resistência. Pois agora aqui está o rescaldo e a factura. Os usurários comportam-se como um cavalo sem freio, que galopa feroz e vai deixando gente pelo chão e um rasto de vidas destruídas. Não querem saber que o cidadão tenha fome. Não querem celebrar o 11 de Setembro de 1973, para que se não lembre como desconstruíram a democracia. Mas celebram efusivamente a queda do muro, evidentemente, porque isso permitiu, também na Lusitânia, a alguns usurários, constituir uma engrenagem complicada, com centros em Belém, S. Bento e proeminentes escritórios de advogados, que se tornaram numa maravilhosa alcova de negócios, que tem por objectivo, por exemplo, dizer-nos que não passa de minudência a destruição do nosso aparelho produtivo ou os abusos no BPN. Nas PPP. Nos negócios do Tridente e do Arpão. No abate cortês dos sobreiros, que encheram os cofres do CDS/PP. No Freeport, que é usado por gente do mesmo oficio, para batalhas de alecrim e manjerona, com vista a marcar putativas diferenças, mas negando o desejo de que saiba afinal como se violou a lei. E poderem ainda cantar o abuso na “caixa”, de poder emprestar dinheiro, não para aplicar na actividade produtiva, mas para aplicar no jogo agiota da bolsa. À semelhança da monarquia vizinha, esta é deriva lusitana, perigosa sem dúvida, mas a quem falta, comparativamente e por agora, uma variável. Mas não se distraia.

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