Augusto Alberto
Foi a primeira das péssimas experiências no hospital, onde
trabalhei mais de 30 anos. Deparei-me com um homem, deitado na pedra fria, com
a cabeça esgalhada, de cima abaixo, por artes de uma enxada, movida
furiosamente por um vizinho, a propósito da disputa de um rego de água. Camilo
Castelo Branco, sábio, escreveu sobre estas coisas. Os montes por de trás do
sol, disputas a varapau, para vingar a perda de menina prometida, ou terra
roubada e lamúrias de padre-nossos e avé-marias, a propósito do país rude,
pobre e esbulhado, caracterizado a golpes de desconchavo, hilariante e com
pitadas corrosivas de humor. O atavismo completo. Com esse atavismo, meteu-se
há dias em conversa uma pessoa que me disse que estando as coisas como estão,
seriam bem-vindas as F.P. 25 Abril, ou outra espécie de brigada bombista.
Disse-lhe que um tiro inopinado, normalmente é tiro no nada, porque quem
morreu, morreu, mas ainda ficam cá os outros bandalhos. E com uma enxadada,
cima abaixo, quem a recebeu morreu e quem a deu, ficou a contas com a justiça.
25 anos de cadeia e a água a continuar a correr torta.
O importante, será saber se antes de utilizar o papelinho no
dia do voto, Maria ou António, passaram a vista sobre as propostas políticas de
Passos, de Portas, ou de Sócrates/Seguro. Não! Pelo contrário. Apressaram-se a
votar em leis do trabalho que desequilibram a favor do mais forte e os correram
para o desemprego. Deram ordem a privatizações de empresas com grandes lucros,
EDP, REN, que caiem por inteiro nos bolsos dos chineses. À diminuição dos
custos com a saúde, ao aumento dos impostos, à privatização da água, a
parcerias, no ensino, na saúde e no asfalto, com a totalidade dos lucros para o
privado, e sem lhe perguntarem, colocaram-nos no euro. E ainda por cima, há
pouco tempo, um chefe de quadrilha veio dizer que Chipre pode ser exemplo a
seguir. Imagine como seria, se esta gente tivesse enfiado as botas e as cuecas
de Salazar. Voltaríamos à semana-inglesa e receberíamos a féria à quinzena.
Tudo, um quinto ainda mais abaixo e quem sabe, adiante, uma mão aveludada de um
amigo vindo do “cavaquistão, ou do “xoxialismo” nos possa vir ainda à conta.
E pumba, lá se ficam os bandalhos a rir e nós a chorar. Bem
sei que a expiação ficou e é santa. Andam por aí comentadores e politólogos
petulantes, que até à bem pouco aceitaram como inevitável o protectorado da
troika, mas agora, que dão como seguro o desastre, já defendem o contrário. Não
evitam a traição e por isso, bem podem ser figurinhas de um romance de Camilo.
Bem mereceriam pagar a traição coeva, à custa do cacete e nódoas negras.
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