domingo, 31 de março de 2013

... e pumba!


Augusto Alberto 

Foi a primeira das péssimas experiências no hospital, onde trabalhei mais de 30 anos. Deparei-me com um homem, deitado na pedra fria, com a cabeça esgalhada, de cima abaixo, por artes de uma enxada, movida furiosamente por um vizinho, a propósito da disputa de um rego de água. Camilo Castelo Branco, sábio, escreveu sobre estas coisas. Os montes por de trás do sol, disputas a varapau, para vingar a perda de menina prometida, ou terra roubada e lamúrias de padre-nossos e avé-marias, a propósito do país rude, pobre e esbulhado, caracterizado a golpes de desconchavo, hilariante e com pitadas corrosivas de humor. O atavismo completo. Com esse atavismo, meteu-se há dias em conversa uma pessoa que me disse que estando as coisas como estão, seriam bem-vindas as F.P. 25 Abril, ou outra espécie de brigada bombista. Disse-lhe que um tiro inopinado, normalmente é tiro no nada, porque quem morreu, morreu, mas ainda ficam cá os outros bandalhos. E com uma enxadada, cima abaixo, quem a recebeu morreu e quem a deu, ficou a contas com a justiça. 25 anos de cadeia e a água a continuar a correr torta.
O importante, será saber se antes de utilizar o papelinho no dia do voto, Maria ou António, passaram a vista sobre as propostas políticas de Passos, de Portas, ou de Sócrates/Seguro. Não! Pelo contrário. Apressaram-se a votar em leis do trabalho que desequilibram a favor do mais forte e os correram para o desemprego. Deram ordem a privatizações de empresas com grandes lucros, EDP, REN, que caiem por inteiro nos bolsos dos chineses. À diminuição dos custos com a saúde, ao aumento dos impostos, à privatização da água, a parcerias, no ensino, na saúde e no asfalto, com a totalidade dos lucros para o privado, e sem lhe perguntarem, colocaram-nos no euro. E ainda por cima, há pouco tempo, um chefe de quadrilha veio dizer que Chipre pode ser exemplo a seguir. Imagine como seria, se esta gente tivesse enfiado as botas e as cuecas de Salazar. Voltaríamos à semana-inglesa e receberíamos a féria à quinzena. Tudo, um quinto ainda mais abaixo e quem sabe, adiante, uma mão aveludada de um amigo vindo do “cavaquistão, ou do “xoxialismo” nos possa vir ainda à conta.
E pumba, lá se ficam os bandalhos a rir e nós a chorar. Bem sei que a expiação ficou e é santa. Andam por aí comentadores e politólogos petulantes, que até à bem pouco aceitaram como inevitável o protectorado da troika, mas agora, que dão como seguro o desastre, já defendem o contrário. Não evitam a traição e por isso, bem podem ser figurinhas de um romance de Camilo. Bem mereceriam pagar a traição coeva, à custa do cacete e nódoas negras.

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