Augusto Alberto
Façam o favor de passar os olhos por Cervantes e D. Quixote.
É leitura inigualável e de deslumbrante inteligência e fino humor. Se vivesse
hoje, Cervantes escreveria sobre as andanças e desditas no reino de Espanha. O
seu cavaleiro D. Quixote, desta feita, trocaria a leitura dos romances de
cavalaria sobre Palmeirim de Inglaterra e Amadis de Gaula, pela leitura de
Marx, para melhor interpretar a teoria da acumulação do capital, confirmada com
os 5 milhões de desempregados em Espanha. D. Quixote, que foi probo,
inteligente, letrado e casto, porque se deu de amores a uma única mulher, na
companhia do camponês Sancho Pança, seu fiel escudeiro, percorreria a Espanha,
numa batalha sem quartel, contra os que trazem a fome.
Passasse por botequins, ou estalagens baratas, haveria de
topar com gente puída e despossuída de casa e pão, e não acharia na moderna
Espanha, a sua amada e virgem Dulcineia del Toboso, mas uma “infanta”
comprometida com a mais desbragada e fascinante corrupção. Talvez acometesse de
lança e elmo e rubro de raiva contra o palácio real. Mandaria, entretanto, ao
Palácio da Moncloa, por o seu tempo ser escasso, o seu fiel escudeiro, Pança,
montado no ruço pachorrento, para avisar que mais cedo do que tarde, o seu amo,
D. Quixote, lá chegaria, para pedir explicações a quem permite que homens e
mulheres em desespero, se lancem de um andar para o passeio, ou se imolem num
centro de emprego, e para perceber que políticas criaram o espantoso exercito
de desempregados, que sempre que sai à rua, é violentamente sovado pela policia
e que têm um rei, que em vez de exigir a boa democracia, sai à caça de
rinocerontes pretos e se perde por uma puída baronesa teutónica.
E à sede do Partido Popular chegaria para pedir informações
sobre a lisura, que nunca houve, desde o tempo do fascista galego, Fraga
Iribarne e ao tempo do fascista Aznar. D. Quixote, cavaleiro da grande figura,
montado no estafado Rocinante, de lança, elmo e chapéu em forma de bacia de
barbeiro, hoje, surpreendido, deixaria os moinhos de vento em paz e
atirar-se-ia contra bancos e palácios, onde mora gente de má-fé e má conduta.
Passaria o cavaleiro Manchego, para sossegar e aprender um pouco mais com os
ensinamentos de Marx, pela sua Alcalá de Henares, e na sua preciosa tarefa, não
teria uma pequena Ilha para administrar, mas teria o grande capital e toda a
Espanha para limpar.
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