Augusto Alberto
No país do pé rapado
há muito boa gente a casar com a opacidade e a contra luz. E tem ainda o condão
de valorizar outros aspectos da personalidade, que durante os anos de acesso a
alguns gadgets, estiveram em hibernação. A inveja! É feroz a prática que
cavalga a divisão entre sector público e o privado. Com sucesso, diga-se,
porque a inveja se lhe cola.
Primeiro foi José Sócrates, com vista à reinação. E o actual
governo PPD/CDS, também. Todavia, é uma infelicidade que muitos autóctones não
percebam que o que ao poder interessa, é fazer baixar, por grosso, a qualidade
de vida do povo, quer seja do público ou do privado, em linha com o ajuste de
contas, votado democraticamente, não esqueçamos.
foto: alex campos |
Em segundo lugar, é urgente lembrar uma outra característica
arreigada nos gentios. O oportunismo! O oportunismo e a delação, com que se
cuida ser possível passar entre os pingos da chuva, sem molhar a fatiota. Mais
ou menos assim: “cuidado chefe, com os
nomes que vai colocar na lista para enviar para o director, com vista ao
despedimento ou à mobilidade. Olhe que eu nunca fiz uma greve, nem nunca
participei numa manifestação. Aquele ali ao lado, aquele que ali vê, é que não
falha uma greve ou manifestação”.
Esta foi a sensação com que fiquei, há dias, quando estive
na pequeníssima concentração, juntamente com um punhado de trabalhadores dos
CCT, a favor do serviço público. Enquanto lá dentro, a estação funcionou com a
toda a normalidade.
Não errarei se disser que reflectir sobre o que sucedeu com
os trabalhadores das estações públicas de TV e rádio, na Grécia, é oportuno.
Alguns gregos cuidaram que estando em posição de conforto evitavam o sopapo.
Infelizmente, bastou um instante para que tivesse chegado um formidável
piparote, que tudo levou de charola. Aliás, estas experiências canalhas, tendo
sucesso, pelo menos uma vez, rapidamente fazem o seu percurso universal.
Por isso, não admira que sejam aplicadas medidas
correlativas ao nosso mundo do trabalho, seja a trabalhadores honrados ou
oportunistas, do ensino, dos CTT, da rádio ou da TV e etc. Jaime Fernandes,
provedor da RTP, afirmou, sem rodeios, que em Portugal se pensou numa solução
ainda mais drástica.
É de ciência feita, que alguns oportunistas passarão, sem
dúvida, entre os pingos da chuva. Contudo, fica por saber quem tenta, mas não
consegue.
Quem sabe se o azarado não é o cidadão, que nunca gastou um
segundo numa greve um minuto numa manifestação? Pode acontecer!
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