sexta-feira, 21 de março de 2008

21 de Março, Dia Mundial da Poesia

De Barbosa du Bocage:

Lá, quando em mim perder a humanidade,
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi-gratia - o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde ou frade;

Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites, em voz alta,
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade;

Mas quando ferrugenta enxada idosa,
Sepulcro me cavar, em ermo outeiro,
Lavra-me este epitáfio, mão piedosa:

"Aqui jaz Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu, sem ter dinheiro."






De Agostinho Neto:

VOZ DO SANGUE
Palpita-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue

Ó negro esfarrapado do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South

Ó negro de África

Negros de todo o mundo

eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.

Eu vos acompanho
pelas amaranhadas áfricas
do nosso Rumo

Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.

3 comentários:

Capitão Merda disse...

Assim é que se "fala"!

Dois portugueses dignos desse nome tiveram a palavra...

Vanessa disse...

Votos de uma Páscoa Feliz.

Anónimo disse...
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