Não é necessário saber muito de economia para percebermos que o neo-liberalismo é a cereja em cima do bolo do regime capitalista. É um aperfeiçoamento requintado do sistema. Conjunto de teorias arquitectadas por um anormal que dava pelo nome de Milton Friedman, tendo ganho um prémio Nobel à conta delas, baseiam-se, numa explicação muito simples e perceptível por todos, em acumular mais riqueza nas mãos de cada vez menos. Menos nababos, claro.
A estreia desta grande inovação deu-se em 1973, com o selvático derrube do governo democraticamente eleito de Salvador Allende e com a instituição de um regime de terror. Em Portugal a coisa deu-se de forma muito mais pacífica, sem comparação, diga-se, dando os primeiros passos em 1985, coincidente com a primeira maioria absoluta de um só partido, após o 25 de Abril.
Primeiros passos é uma forma de dizer. É evidente que há antecedentes. Basta recordar que o dirigente da CIA, Frank Carlucci, um dos responsáveis pelo crime chileno, veio para Lisboa, disfarçado de embaixador, liderar o processo neo-liberal, contando com a abnegada colaboração de Mário Soares e demais correligionários, entre os quais temos o famoso poeta, Manuel Alegre.
Mas as teorias económicas são exactamente as mesmas e, em Portugal, as consequências podem ser muito parecidas.
O Chile ficou assim, segundo Luís Sepúlveda: “Enquanto as bases da economia, da cultura e da história social do Chile eram destruídas através de privatizações dos bens nacionais que incluíram a saúde e a educação, qualquer tentativa de oposição era esmagada por meio de assassínios, tortura, desaparecimentos ou exílio. Isso é tudo o que Pinochet deixa, um país falido e sem futuro, um país onde os direitos elementares, como o contrato de trabalho, a informação, a saúde pública e a educação, são quimeras cada vez mais difíceis de alcançar”.
Nos últimos anos a situação do nosso país tem-se esmerado. Além das privatizações, dos ataques a tudo o que é público, saúde, educação, e por aí fora, da correspondente degradação de serviços, dos lucros fabulosos da banca e de algumas outras empresas, registam-se ainda os seguintes dados: mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores precários; mais 122 mil contratos a prazo do que há 3 anos; menos 106.200 trabalhadores qualificados desde há 3 anos; nos últimos 5 anos duplicou o desemprego entre os licenciados; em 2007, 43 mil licenciados desempenhavam trabalhos não qualificados ou de baixa qualificação.
Entretanto, podemos ir vendo as diferenças que encontramos com a situação em que o Chile se encontra depois da grande experiência. Não serão muito perceptíveis, descontando a táctica e os meios utilizados. Quanto às semelhanças, não serão só mera coincidência.
Fora do âmbito das diferenças e das semelhanças, temos uma nuance muito interessante. Penso até merecedora de aturado estudo por parte de politólogos, economistas ou não: no Chile, a primeira vítima do imbróglio chamava-se Partido Socialista; em Portugal o principal instrumento do imbróglio chama-se Partido Socialista.
Adenda 1: Já depois de escrevinhar esta croniqueta tive conhecimento que o meu amigo António Agostinho foi mais uma vítima deste tipo de situação, no mínimo execrável. Ele conta toda a história aqui.
Mas estou com ele: bardamerda para o défice. E digo mais: bardamerda para o resto dos filhos da puta.
Adenda 2: Uma célebre frase do famigerado Milton: "I have no idea why this won´t work"
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2 comentários:
Cá para mim esse senhor malvado é mesmo a encarnação do mafarrico,com cornos cheiro a enxofre e tudo, cruzes credo! Vá de retro! Vou já pôr uma velinha a S. José Estaline para nos ajudar nesta cruzada contra os neoliberais malandros... Ui !
Não ter ideias não significa que se recorra ao humor. Até porque o humor é uma arte,e o do anónimo aí de cima é um desastre.
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