sábado, 18 de abril de 2009

Ninho, uno e indivisível

por Augusto Alberto


Em Abril, como é habitual, ainda não vi andorinhas nos meus beirais. Provavelmente verei mais tarde do que o normal, porque o tempo de Abril por agora vai frio e talvez por isso a Primavera ande desconfiada. Mas no Pocinho, no beiral, mesmo por cima da minha janela, do edifício do Centro Nacional de alto rendimento de remo, os ninhos são já muitos.
Estou neste momento em convívio com cerca de 70 alunos de colégios e universidades de Inglaterra, que escolheram o Pocinho para o seu “campus” de treino da Primavera. Eton, o colégio dos colégios de Inglaterra, em cujas instalações e estruturas se irão disputar as provas de remo e canoagem nos próximos Jogos Olímpicos e Paraolimpicos de 2012, onde desejo estar, e a Universidade de Bristol, são exemplos. Muitos alunos oriundos dos Estados Unidos, Canadá e até um jovem da Colômbia. Gente com gostos muito diversos. Muito dados ao chá, já o sabíamos, molhos, pimenta nas sopas, saladas, batata frita, bacon e ovos. Conseguir contentá-los do ponto de vista da dieta, segundo os seus gostos, é tarefa complicada.
Em Março, também convivi com a equipa olímpica francesa. Uma equipa com muitos e bons resultados, duas medalhas de bronze em Pequim, fruto de um bom nível de organização e disciplina, já consolidados há muitos anos. Sem atletas profissionais, tal como os nossos, com os mesmos problemas de universidade e emprego, mas bem resolvidos, em linha com um modelo estrutural que deu resposta capaz de solucionar essas questões para que os seus melhores atletas possuam o tempo necessário para a preparação ao mais alto nível. Para os universitários, a “net” mantêm-nos em linha com a universidade, na busca das ferramentas para continuarem os seus estudos, mesmo longe do país e em pleno treino de alto rendimento. Por França, há mais vida para cá e para lá do futebol.

Entretanto, às andorinhas que sobre a minha janela do quarto construíram os seus ninhos, observo-as em total azáfama, buscando em cada voo o barro com que laboriosamente os reconstruíram. Desconheço se o bando tem alguma hierarquia, mas sinto que o ninho é uno e indivisível e por isso, sortidas para o tomar de assalto, são duramente reprimidas. Convivem penduradas nos fios eléctricos e são pássaros trabalhadores, que procuram com garra o seu alimento. Se existe outra regra, creio, é a de não roubar o produto do trabalho de quem procurou e amealhou e por isso, qualquer tentativa é também repelida com aspereza e estrondo, porque por ali, do mesmo passo, não devem faltar os espertos.
Confronto esta apreciação, com notícias publicadas nos jornais diários. E essas notícias dizem-nos que a sopa dos pobres vai em crescendo e que as misericórdias vão no sentido do reforço da malga. Ora aqui está aparentemente uma boa solução. Mas eu que já sou burro velho, e já vi este filme, tenho bem presente os níveis de caridadezinha dos tempos do fascismo. Receio bem que estejamos quase no mesmo nível.
A coisa deve estar tão preta, porque de momento nem o esteta do Governador do Banco de Portugal consegue esconder a coisa, sempre contada como se ainda o pior não tivesse chegado. Mas logo novos dados nos dão em pior estado do que o anterior. Merdas!
Sinceramente, acho que está na altura de fazer tal como as andorinhas, repelir com aspereza e estrondo esta gente, que sem dó nem piedade, nos meteu neste estado de angústia. Porque deveremos nós ter piedade desta gente que nos atira de novo para as sopas do Barroso?

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