sábado, 13 de junho de 2009

A pasta funâmbula

Augusto Alberto


Foi em 1997 na campanha eleitoral para as autárquicas, aquelas em que o Dr. Santana Lopes deu um capote, que me cruzei na cidade com um jovem, de pasta na mão, que conheço, e perguntei ao que ia. Um militante da juventude de um partido de poder cá da terra, mas de ingenuidade muito ligeira, como só pode ser, porque me disse calmamente que ia a um determinado local, que mantenho sob reserva, claro está, buscar um cheque, gordo, para pagar a campanha eleitoral do seu partido. Nada de mais pagar os cartazes, desdobráveis, pins e outras coisas afins, mas quanto ao resto…
Em tempos de campanha autárquica, esta pequena história é-me irresistível.
Acontece que após mais uns diazitos por fora, passei os olhos por jornais atrasados e fiquei a saber que o senhor engenheiro Daniel Santos se coloca na posição de candidato independente à presidência do município. Nada mais justo, porque a cidadania é um direito.
O lugar escolhido para a apresentação tinha de ser, necessariamente, a condizer. A Assembleia Figueirense, lugar onde pára de quando em vez uma certa amálgama da burguesia e aristocracia da vanguarda da cidade, muito a gosto, alguma vagamente funâmbula, em saraus que o comum dos mortais não entende e que mais parecem ser coisa esotérica.
O Eng. Daniel avança porque diz, entre outras coisas, que os partidos estão esgotados. É uma perigosa observação. Primeiro, é preciso saber por onde andamos, o que fez cada um de nós e que contributos demos, não vale, pois, assobiar para o ar. Depois é preciso perceber que os partidos não são coisas vagas e herméticas. As pessoas não são más por estarem organizadas politicamente e boas por não estarem. São meritórias quando gerem e zelam pela coisa pública e comum, estejam politicamente organizadas ou não, mas se tomam decisões que só a alguns interessa, então a mesma pessoa, do mesmo passo, organizada politicamente ou não, coloca-se na posição contrária à do interesse geral. É por isso que se eu fosse o Presidente da Câmara, por exemplo, nunca permitiria que o hotel do galante fosse construído, por violação, do meu ponto de vista, do bem comum. É claro que construído o hotel, a decisão foi excelente para o promotor, mas para o comum dos cidadãos, foi uma decisão desastrosa para a cidade. A questão é saber de que lado estamos.
Evidentemente, que um promotor sortudo, com certeza arriscará colaborar na campanha eleitoral a favor de quem decida pela sua sorte, mas não contribuirá, necessariamente, a quem lhe traga o azar. É assim que se faz nas grandes democracias, como acima se vê, e ponto final.
Mas voltando à apresentação da candidatura do Eng. Daniel dos Santos, sabemos que a sala esteve cheia e que muitos dos tais burgueses e aristocratas da vanguarda figueirense passaram por lá, e nada os podia impedir, evidentemente. Mas, apesar, não lhe garante grande cartão de apresentação, digo eu. Por isso e dito o que acima disse, e o que lá se viu, já me chega. Mas civilizadamente, desejo-lhe a maior sorte.
E já agora, resta perguntar, se esta é mesmo a democracia que nos serve. Ou será que o nosso tempo ainda é igual ao tempo de que nos falou Eça, há 138 anos, na sua “campanha alegre”? O país é um espectador distraído…paga àqueles que o espoliam e àqueles que o parasitam…paga tudo, paga por tudo.

2 comentários:

samuel disse...

Paga... e em muitos casos, infelizmente, parece que gosta.

Abraço.

Anónimo disse...

Você gosta de falar do que os outros fazem e pagam, mas será que nos é capaz de dizer o que faz no remo e os arranjinhos em que faz parte?