Augusto Alberto
Num jornal diário, cuja linha editorial cruza o mais sincero fervor católico com fotos de belas mulheres com pouca roupa, ou simplesmente nuas, uma autêntica desgraça, há dias, na sua última página, trouxe uma pequena fotografia de um português, um mimo, para disfarçar a vergonha, afirma o jornal, com um cartaz em que literalmente se desnuda socialmente e que diz: - tenho fome. A minha imaginação leva-me a admitir que o mimo com fome se expressou ali para os lados do Rossio. E porquê? Porque ali há movimento, e foi por isso que, nos finais dos anos 60 do século passado, a populaça viu ser largado um porco, com galonas de almirante. A algazarra foi muita. Carros a fintarem o porco almirante, a polícia e os pides, completamente destrambelhados à procura do dito, e o povo aos gritos: - agarra que é almirante. Eu que andava por perto, também dei conta do rebuliço, sem contudo ter a sorte de por o olho em tamanho marinheiro. Foi um mimo.
Isto foi para acabar com o país da penúria, de para lá e para cá, dos Montes e das Berças, cujos filhos desfilavam pela Rocha de Conde Óbidos, antes de subirem ao Pátria, ao Uíge, ao Infante D. Henrique ou ao Vera Cruz, muitos deles, convencidos de que iam matar “pretos” para retemperar a Pátria.
Veio a Revolução do 25 de Abril, e foi para isso que se lançou à praça o porco almirante, e nesse momento, convencemo-nos de que os mimos com fome jamais voltariam. Engano! Porque logo após, os filhos, os netos e os bisnetos do 24 Abril, regressaram. E têm feito coisas espantosas. De volta e meia, para sossegar os espíritos, trazem à santa Cova da Iria, o santo papa. Constroem estádios e montam campeonatos, um que já foi, da Europa e já vão cantado, que um campeonato do mundo de futebol está no papo, e em surdina, deixam-nos de novo, com cerca de 40% de mimos famintos, a fazer fé em dados falados num conclave de doutos economistas, por pessoa que julgo, com critério.
Entretanto, veio agora um dirigente do sistema, dizer-nos da completa incompetência para gerir esta pátria. Propõe-nos que se impluda o estádio que foi do Europeu na cidade de Aveiro. Confesso que a minha surpresa foi muita, mas lamento que se tenha esquecido de propor também, a criminalização de quem decide sobre estas coisas, porque só o julgamento político, uma espécie de farta penitência, não chega, porque, por isso mesmo, eles vão continuar por ai a criar mais mimos com fome.
Na instituição onde trabalhei 31 anos, houve uma senhora de que todos gostávamos muito e a quem chamávamos “tia”. Era uma penitente admiradora do católico António Guterres e sempre esteve convencida, evidentemente, de que os “socialistas” vieram ao mundo para acabar com os mimos com fome. Outro engano.
Estou completamente convencido de que essa nossa “tia”, continua convencida das virtudes “socialistas”, mas ela que me desculpe, ao fim de todos estes anos, se lhe disser que afinal, voltámos, muito rápido, ao admirável mundo velho.
Num jornal diário, cuja linha editorial cruza o mais sincero fervor católico com fotos de belas mulheres com pouca roupa, ou simplesmente nuas, uma autêntica desgraça, há dias, na sua última página, trouxe uma pequena fotografia de um português, um mimo, para disfarçar a vergonha, afirma o jornal, com um cartaz em que literalmente se desnuda socialmente e que diz: - tenho fome. A minha imaginação leva-me a admitir que o mimo com fome se expressou ali para os lados do Rossio. E porquê? Porque ali há movimento, e foi por isso que, nos finais dos anos 60 do século passado, a populaça viu ser largado um porco, com galonas de almirante. A algazarra foi muita. Carros a fintarem o porco almirante, a polícia e os pides, completamente destrambelhados à procura do dito, e o povo aos gritos: - agarra que é almirante. Eu que andava por perto, também dei conta do rebuliço, sem contudo ter a sorte de por o olho em tamanho marinheiro. Foi um mimo.
Isto foi para acabar com o país da penúria, de para lá e para cá, dos Montes e das Berças, cujos filhos desfilavam pela Rocha de Conde Óbidos, antes de subirem ao Pátria, ao Uíge, ao Infante D. Henrique ou ao Vera Cruz, muitos deles, convencidos de que iam matar “pretos” para retemperar a Pátria.
Veio a Revolução do 25 de Abril, e foi para isso que se lançou à praça o porco almirante, e nesse momento, convencemo-nos de que os mimos com fome jamais voltariam. Engano! Porque logo após, os filhos, os netos e os bisnetos do 24 Abril, regressaram. E têm feito coisas espantosas. De volta e meia, para sossegar os espíritos, trazem à santa Cova da Iria, o santo papa. Constroem estádios e montam campeonatos, um que já foi, da Europa e já vão cantado, que um campeonato do mundo de futebol está no papo, e em surdina, deixam-nos de novo, com cerca de 40% de mimos famintos, a fazer fé em dados falados num conclave de doutos economistas, por pessoa que julgo, com critério.
Entretanto, veio agora um dirigente do sistema, dizer-nos da completa incompetência para gerir esta pátria. Propõe-nos que se impluda o estádio que foi do Europeu na cidade de Aveiro. Confesso que a minha surpresa foi muita, mas lamento que se tenha esquecido de propor também, a criminalização de quem decide sobre estas coisas, porque só o julgamento político, uma espécie de farta penitência, não chega, porque, por isso mesmo, eles vão continuar por ai a criar mais mimos com fome.
Na instituição onde trabalhei 31 anos, houve uma senhora de que todos gostávamos muito e a quem chamávamos “tia”. Era uma penitente admiradora do católico António Guterres e sempre esteve convencida, evidentemente, de que os “socialistas” vieram ao mundo para acabar com os mimos com fome. Outro engano.
Estou completamente convencido de que essa nossa “tia”, continua convencida das virtudes “socialistas”, mas ela que me desculpe, ao fim de todos estes anos, se lhe disser que afinal, voltámos, muito rápido, ao admirável mundo velho.
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