Augusto Alberto
Eram 8 horas e 15 minutos de uma manhã soberba de fim de Setembro, e eu estava no meu pátio, com os braços sobre o portão, quando vejo chegar um automóvel e de modo decidido, vejo sair uma senhora, jovem, que se me dirigiu, pedindo desculpa pela ousadia, mas queria-me pedir um favor. Confesso que fiquei perplexo, e um pouco assustado, pelo modo meio desabrido como aquela mulher se me dirigiu logo pela manhã. Consenti e ouvia-a com calma.
Pediu-me que consentisse em receber o seu filho, um menino com 8 anos, durante um curto período, um pouco mais de meia hora, entre as 8h e 15 e cerca das 9 horas, porque sendo ela professora numa outra escola da cidade, e tendo de entregar o seu filho a horas na escola, que fica à minha frente, só colocando-o muito antes da abertura, para voltar de novo e chegar a horas à escola onde lecciona. Pediu-me muita desculpa pela ousadia, mas estava preocupadíssima com a escassez de tempo.
Confesso que num primeiro tempo fiquei surpreendido, mas percebi o seu desespero e por isso acedi ao pedido.
Entretanto, para perceber o quadro, soube que o marido profissionalmente está colocado longe da família, não favorecendo o equilíbrio e não sendo solução.
A primeira observação, é a de que como é possível uma mãe entregar o seu filho a gente que nunca viu? A segunda, é a do estado de aperto em que esta família se encontra. A terceira, é de como as famílias são instrumento e pouco valem, apesar das intenções de amor. E a última, é a de que não quero saber se a senhora foi uma das 150 mil pessoas que a Lisboa se deslocaram, se foi um dos novos eleitores do Bloco de Esquerda ou se se mantêm fiel, digo eu, ao PS ou ao PPD/PSD. O que sei é que aquela mulher estava desesperada, uma mãe à rasca, e procurou uma solução de olhos fechados. De mim, espero ser boa solução, como sempre fui, em muitas outras situações.
Também sei que uma jovem enfermeira, logo pela manhã de segunda-feira, 28 de Setembro, um dia após a parda vitória do Partido Socialista, se dirigiu ao Sindicato dos Enfermeiros da zona centro, com um papel de despedimento. Quem a atendeu, ficou logo a saber que não era sindicalizada e para compor o ramalhete, tinha no dia anterior, votado no Partido Socialista, exactamente quem a despediu.
Teremos o direito a ficar incrédulos, mas não vale a pena, porque a realidade supera o nosso melhor entendimento.
Para o caso não interessam os nomes, o importante é saber que a flexibilidade, a mobilidade, que estão contidos no execrável Código do Trabalho, aprovado em Portugal pelo Partido Socialista e os restantes seráficos, encartados de democratas, os recibos verdes e o trabalho precário e sem direitos, são hoje um recuo civilizacional e por isso, contrariam as piedosas prédicas a favor do emprego, da família, do aumento da taxa de natalidade e da estabilidade emocional. Foi aquilo que nos deixaram estas duas histórias, de uma enfermeira com canudo mas sem emprego e que só agora porventura começará a perceber o mundo em que gira, porque lhe caiu em cima, e uma mãe, professora e à rasca.
E este texto é um pouco a resposta a quem, numa conversa informal, me disse que achou um pouco cruel o meu último texto, publicado aqui, neste “aldeia olímpica”. Pois eu digo-lhe, agora, caro amigo, não é o texto que é cruel, são os factos.
Eram 8 horas e 15 minutos de uma manhã soberba de fim de Setembro, e eu estava no meu pátio, com os braços sobre o portão, quando vejo chegar um automóvel e de modo decidido, vejo sair uma senhora, jovem, que se me dirigiu, pedindo desculpa pela ousadia, mas queria-me pedir um favor. Confesso que fiquei perplexo, e um pouco assustado, pelo modo meio desabrido como aquela mulher se me dirigiu logo pela manhã. Consenti e ouvia-a com calma.
Pediu-me que consentisse em receber o seu filho, um menino com 8 anos, durante um curto período, um pouco mais de meia hora, entre as 8h e 15 e cerca das 9 horas, porque sendo ela professora numa outra escola da cidade, e tendo de entregar o seu filho a horas na escola, que fica à minha frente, só colocando-o muito antes da abertura, para voltar de novo e chegar a horas à escola onde lecciona. Pediu-me muita desculpa pela ousadia, mas estava preocupadíssima com a escassez de tempo.
Confesso que num primeiro tempo fiquei surpreendido, mas percebi o seu desespero e por isso acedi ao pedido.
Entretanto, para perceber o quadro, soube que o marido profissionalmente está colocado longe da família, não favorecendo o equilíbrio e não sendo solução.
A primeira observação, é a de que como é possível uma mãe entregar o seu filho a gente que nunca viu? A segunda, é a do estado de aperto em que esta família se encontra. A terceira, é de como as famílias são instrumento e pouco valem, apesar das intenções de amor. E a última, é a de que não quero saber se a senhora foi uma das 150 mil pessoas que a Lisboa se deslocaram, se foi um dos novos eleitores do Bloco de Esquerda ou se se mantêm fiel, digo eu, ao PS ou ao PPD/PSD. O que sei é que aquela mulher estava desesperada, uma mãe à rasca, e procurou uma solução de olhos fechados. De mim, espero ser boa solução, como sempre fui, em muitas outras situações.
Também sei que uma jovem enfermeira, logo pela manhã de segunda-feira, 28 de Setembro, um dia após a parda vitória do Partido Socialista, se dirigiu ao Sindicato dos Enfermeiros da zona centro, com um papel de despedimento. Quem a atendeu, ficou logo a saber que não era sindicalizada e para compor o ramalhete, tinha no dia anterior, votado no Partido Socialista, exactamente quem a despediu.
Teremos o direito a ficar incrédulos, mas não vale a pena, porque a realidade supera o nosso melhor entendimento.
Para o caso não interessam os nomes, o importante é saber que a flexibilidade, a mobilidade, que estão contidos no execrável Código do Trabalho, aprovado em Portugal pelo Partido Socialista e os restantes seráficos, encartados de democratas, os recibos verdes e o trabalho precário e sem direitos, são hoje um recuo civilizacional e por isso, contrariam as piedosas prédicas a favor do emprego, da família, do aumento da taxa de natalidade e da estabilidade emocional. Foi aquilo que nos deixaram estas duas histórias, de uma enfermeira com canudo mas sem emprego e que só agora porventura começará a perceber o mundo em que gira, porque lhe caiu em cima, e uma mãe, professora e à rasca.
E este texto é um pouco a resposta a quem, numa conversa informal, me disse que achou um pouco cruel o meu último texto, publicado aqui, neste “aldeia olímpica”. Pois eu digo-lhe, agora, caro amigo, não é o texto que é cruel, são os factos.
1 comentário:
olha Albertini a canalha continua à solta.
Abraço
Enviar um comentário