segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Angola à frente de Portugal (croniqueta global, em três andamentos e onde se fala da América Latina e tudo)

1.
Quem diria? O capitalismo em Angola está muito mais desenvolvido do que em Portugal. Porquê, não faço a mínima ideia. Ou os angolanos são mais competentes ou os portugueses são mais distraídos.
E isto para além do desenvolvimento económico atingir índices de crescimento muito positivos, a fome, a miséria das classes trabalhadoras são muito mais acentuadas. E o nível de vida muito mais baixo. Num país reconhecidamente riquíssimo, é obra. Significa que as desigualdades sociais, uma das características do capitalismo, são realmente muito mais acentuadas.
Um outro pormenor que contribui para este avanço de Angola é-nos dado pelo jornalista angolano Wilson Dadá, no seu blogue “Morro da Maianga”. Sobre o caso “Face Oculta”, em Portugal, diz-nos ele que uma investigação deste tipo em Angola nunca teria necessidade de se chamar “face oculta”. “Aqui é tudo a descoberto. Aqui a malta tem muita coragem, é muito mais indómita, muito mais intrépida. Aqui a malta tem de facto “tomates”.
E Wilson exemplifica o “desenvolvimento”: “Os dez mil euros que o “pobre” do Mandinho é acusado de ter recebido em Portugal do sucateiro do bigodinho, aqui, qualquer dia, já nem para gorjeta vai servir.
O pobre do Mandinho aqui seria imediatamente condenado e ostracizado pelos seus pares locais por manifesta e incompreensível falta de ambição e brio profissional.
Aqui é tudo muito a sério.
Aqui é tudo em grande.
Por alguma razão Portugal cabe inteirinho 14 vezes em Angola.”
2.
Onde o capitalismo tem tido alguma dificuldade em meter a pata é na América Latina. Mas, apesar disso, tem lá um rincão onde está muito à frente da média global. Na Colômbia, repara-se que não têm necessidade de fundarem centrais sindicais paralelas, ou amarelas, como queiram, para dividir e enfraquecer o papel social do trabalho. Lá, pura e simplesmente se assassinam os sindicalistas, os militantes de Esquerda e mais quem se opuser à sua vontade.
Claro que não estou desiludido porque na Europa, e particularmente em Portugal, o capitalismo não ter atingido ainda um grau de desenvolvimento tão acentuado. Para lá caminha, ainda que o processo seja muito lento. Mas sabe-se que um dos seus processos de sobrevivência é colocar os trabalhadores europeus ao nível dos seus congéneres doutras paragens.
E pode passar despercebido esse processo, mas que está em curso, a ganhar um maior ritmo, lá isso está.
3.
Num serviço noticioso da televisão vejo a cobertura da chegada dos leaders da América Latina para a conferência. A coisa está tão, tão globalizada, tão aceite que o jornalista refere-se a Raúl Castro, Hugo Chaves e Evo Morales, para dizer que não vieram, como os “controversos”. Porquê? Porque não se põem a jeito do capitalismo internacional, vulgo imperialismo? Está visto o que toda a gente sabe, mas agora é às claras: a globalização é a submissão dos povos a um padrão único. Também sou controverso.
Agora imaginem que não tivesse vindo gente decente. Acham que seria legítimo que eu dissesse que a reunião é só para filhos da puta? Claro que nunca diria.
Pronto, está bem, não diria, mas pensava. Lá isso pensava.
(gravura pedida emprestada ao Cantigueiro)

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