segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O S. Martinho

Augusto Alberto

Esteve o nosso Presidente da República em Torres Vedras, no passado dia 11 de Novembro, para comemorar os 200 anos da edificação militar das linhas de Torres, que resistiu com fibra, ao avanço das tropas de Napoleão rumo à capital. Evidentemente, que já na altura, um exercito monco só conseguiu parar uma tropa mais apetrechada porque a tropa inglesa ajudou. Sós, com um exercito de camponeses pobres e mal arrumados, era tarefa inglória e a pátria sofreria nova vergonha.
Mas deixemos as questões da glória para reter o trabalho jornalístico que teve a oportunidade de cobrir a cerimónia. Estava o nosso Presidente na arenga, como convêm em semelhante momento, quando a câmara se desvia e foca um grupo de jovens, pela pinta, do ensino secundário e avançou com a pergunta sacramental e da praxe:
-Sabes o que se comemora hoje aqui? Resposta lúcida e de rompante: - o S.Martinho.
Eu acho que a História volta e meia fica possuída de um desejo de recordar tudo de rostilhão. Ainda na véspera, e muito bem, claro está, a queda de um mito, o muro de Berlim e, logo após escassas horas, comemora outra fortificação, em pedra, ainda que não seja um muro.
Em ambos, dando de barato a pedra e o cimento, como elementos na estrutura física, não creio que os factos históricos, sobre os acontecimentos estejam bem contados. Só assim é possível entender que o jovem aluno de Torres Vedras, à pergunta, tenha respondido escorreitamente:
- aqui, comemora-se o S. Martinho.
Evidentemente, que do ponto de vista da história Pátria, não estamos perante uma boutade, mas de geral ignorância. E porquê? Porque eu há 50 anos aprendi exactamente, na minha escola primária, o que foi o plano fortificado das linhas de Torres e por isso, dá a ideia que às vezes as coisas só sabem andar para trás e não há como engatar. Se assim é, então eu sugiro que num tempo de comemoração da queda de um ícone, há 20 anos, da comemoração da criação de uma estrutura de defesa militar, contra as investidas de gente louca, há 200 anos, e porque ainda anda muita gente a trocar o passo, que se leve adiante aquela proposta da Drª Ferreira Leite, que diz: - congele-se a democracia pelo menos por 6 meses. Ora aqui está, como uma proposta terrorista, feita por uma democrata, provavelmente nos daria tempo para a gente pensar sobre a pátria, que muitos amamos.
Contudo, neste instante, talvez eu fosse um pouco mais longe, no aproveitamento da terrorista achega, propondo que se congele antes as elites deste país, porque com elas, este pais não passará de um S. Martinho, onde com castanhas e vinho, se entretêm o povinho.

Sem comentários: