segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Aos papagaios, é preciso encurtar a guita para os arrear

Augusto Alberto


Há uns anos atrás vi um notável documentário sobre uma das mais sérias sequelas saídas do fim da União Soviética. A guerra fratricida no enclave azeri, de maioria arménia, do Nagorno Karabakh. Deu-nos imagens de como famílias inteiras, acossadas, fugiram das suas aldeias e se recolheram em vagões de carga abandonados numa linha de caminho de ferro, tornada inoperacional pela guerra. Os que chegaram primeiro, ocuparam o interior, os que vieram depois, ocuparam o espaço abaixo, entre os rodados. A ONU mitigava diariamente a dor, distribuindo sopas. Entretanto, ouvimos ainda um fabuloso e oportuno desabafo de um alto e libertário quadro da francesa “Total”, que reflectiu sobre o momento e disse: “esperámos muitos anos para vir para o Azerbeijão explorar o petróleo, mas, enfim, chegamos. Estamos hoje em Baku”.
A grandiosa muralha da China, construída no século III a.c. resistiu a repetidas invasões, mas não foi capaz de resistir à chegada da nobre e imperial marinha inglesa, que no século XIX, ocupou a milenar China e a obrigou a capitular perante o consumo larvar do ópio. Foi a guerra do ópio que colocou a grande nação chinesa de joelhos, após os acordos de Nanquim. Estava dado o passo para a cedência de Hong Kong ao império inglês e para o início do período em que nos parques a interditação a cães e a chineses, tinha força de lei. E hoje, sabemos que o mais famoso dissidente chinês, o senhor Liu Xiaobo, um veterano da praça Tiananmen, foi condenado a 11 anos de prisão por delito de opinião. Logo as mais cruéis chancelarias do século XXI vieram clamar por mais abertura e democracia.
Entretanto, no México, uma família inteira foi completamente chacinada pela máfia da droga, porque um dos seus melhores filhos, um militar, ousou enfrentar um distinto senhor. Mas no México, a democracia e as suas virtuosas liberdades, correm em pleno, porque uma democracia como esta, apesar de banhada por este sangue, não precisa de conselhos das mais nobres consciências, porque assim vai bem.
Neste instante, lembrei-me que quando era miúdo fiz papagaios de papel que lancei ao vento. Aliás, a arte de lançar papagaios na China, é milenar. Desse modo, não será preciso lembrar-lhes, que quanto mais guita se lhes der, mais eles sobem e por isso, quando tendem a subir demasiado, é preciso encurtar-lhes a guita, para os arrear.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Excelente post.

Um abraço.