segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ary, "trovador de Abril e de Maio"

Associando-me à merecida, e devida, homenagem que o PCP prestou a José Carlos Ary dos Santos deixo um “retrato” e um texto de Fernando Campos. E um poema do saudoso e genial poeta que hoje faria 72 anos. Que pode ouvir aqui, pela voz do próprio Ary.
Mas para falar sobre o Ary ninguém melhor de quem com ele conviveu e o cantou. Aqui.


"[…] E pode “ser tudo o que quiserem”. Mas era sobretudo um poeta muito dotado e um tuga muito atípico; enfim, de outra estirpe: uma voz inteira, sem meias palavras e um coração maior do que o peito, aos saltos, perto da boca.
Até quando tomava partido. Sobretudo quando tomava partido: com a força-toda de uma profunda e autêntica sinceridade e não, como hoje se usa em certos meios de esquerda moderna, com calculismos de conveniência remunerada.
A ele nunca o veríamos abrilhantar “comissões de honra” de uma qualquer esquerda de opereta. O seu palco foi outro. Foi a vida generosa, essa Tragédia verdadeira onde se degladiam paixões, com convicção e deslumbramento.
Embora eu em nada acredite e cada vez mais de tudo duvide, aprecio o talento.
Acho admirável a força generosa e a beleza formal desta declaração de fé."

Tomar partido

Tomar partido é irmos à raiz
do campo aceso da fraternidade
pois a razão dos pobres não se diz
mas conquista-se a golpes de vontade.

Cantaremos a força de um país
que pode ser a pátria da verdade
e a palavra mais alta que se diz
é a linda palavra liberdade.

Tomar partido é sermos como somos
é tirarmos de tudo quanto fomos
um exemplo um pássaro uma flor.

Tomar partido é ter inteligência
é sabermos em alma e consciência
que o Partido que temos é melhor.

Pela espora da opressão
pela carne maltratada
mantendo no coração
a esperança conquistada.

Por tanta sede de pão
que a água ficou vidrada
nos nossos olhos que estão
virados à madrugada.

Por sermos nós o Partido
Comunista e Português
por isso é que faz sentido
sermos mais de cada vez.

Por estarmos sempre onde está
o povo trabalhador
pela diferença que há
entre o ódio e o amor

pela certeza que dá
o ferro que malha a dor
pelo aço da palavra
fúria fogo força flor
por este arado que lavra
um campo muito maior.

Por sermos nós a cantar
e a lutar em português
é que podemos gritar:
somos mais de cada vez.

Por nós trazermos a boca
colada aos lábios do trigo
e por nunca acharmos pouca
a grande palavra amigo
é que a coragem nos toca
mesmo no auge do perigo
até que a voz fique rouca
e destrua o inimigo.

Por sermos nós a diferença
que torna os homens iguais
é que não há quem nos vença
cada vez seremos mais.

Por sermos nós a entrega
a mão que aperta outra mão
a ternura que nos chega
para parir um irmão.

Por sermos nós quem renega
o horror da solidão
por sermos nós quem se apega
ao suor do nosso chão
por sermos nós quem não cega
e vê mais clara a razão
é que somos o Partido
Comunista e Português
aonde só faz sentido
sermos mais de cada vez.

Quantos somos? Como somos?
Novos e velhos: iguais.

Sendo o que nós sempre fomos
Cada vez seremos mais!

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