segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de Março - duas poetisas

Testamento

À prostituta mais nova,
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro…

E àquela virgem esquecida,
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda…

Este meu rosário antigo,
ofereço-o àquele amigo,
que não acredita em Deus…

E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
esses que são de dor
sincera e desordenada…
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu amor…

Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora…
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua…

Alda Lara (Angola)








8 de Março

para mim um dia é pouco
quero ter equiparados
todos os dias do ano
e pelo mesmo trabalho
salário igual



não faço por (a)menos
um átimo não é ótimo
voo às últimas
consequências

pela ética
pela ótica
pela prole

por nós

Líria Porto (Brasil)

1 comentário:

líria porto disse...

duas alegrias, alex - estar na aldeia e conhecer a poesia de alda mara! obrigada!
besos