Ainda que conceda que as razões evocadas por Manuel Alegre para a não aceitação da Guiné Equatorial na CPLP não sejam estapafúrdias, penso ser uma atitude precipitada.
O candidato governamental às eleições presidenciais apresentou duas grandes razões.
Vamos à primeira: que a Guiné Equatorial não é um país de língua portuguesa. Mas aqui poder-se-ia tirar dividendos culturais, bem como outros que adviriam, tendo já o governo guineense decretado que a língua portuguesa seria uma das línguas oficiais a par com o espanhol e o francês, aliás como condição prévia para poder entrar para a CPLP. Do que não gosto foi terem mudado, em 1973, o nome da província Fernão Pó para Macias Nguema. Estão sempre a tempo de rectificar, imbecilidades há em todo o lado.
Culturalmente, historicamente e comercialmente, aquele país está intimamente ligado a Portugal. Os portugueses foram os primeiros a explorar o golfo, em 1471 e, em 1493 João II proclamou-se Senhor da Guiné e Primeiro Senhor de Corisco, uma das mais importantes ilhas da Guiné e um dos principias postos para o tráfico de escravos, uma das actividades lucrativas dos portugueses. As ilhas da Guiné estiveram em poder dos portugueses até 1778.
Com uma população maioritariamente cristã, 93%, dos quais 87% católicos, este país independente desde 1968, possui o maior PIB per capita do continente africano. É sabido que o país deseja o apoio dos 8 países lusófonos para difundir o ensino da língua portuguesa, para formação profissional e acolhimento dos seus estudantes. Por aqui penso que a lusofonia só teria a ganhar.
A segunda razão: aquilo é uma petro-ditadura. Claro que o candidato não deve ter mais do que falar a não ser considerar-se um democrata exímio. O rei deles. De democracias de fachada estou eu farto. Nunca o ouvi falar do que se passa na Colômbia ou nas Honduras, cujos sistemas políticos devem ser “democracias exemplares”. Estes dois regimes não o repugnam. Como também não o repugnam o angolano, este não é uma petro-ditadura, é uma petro-democracia de fachada, e que pelos vistos ele aceita, o guineense, o de Bissau, o de Moçambique. Mesmo o regime português é uma democracia de fachada onde a corrupção é quase uma instituição, a exemplo dos outros países lusófonos. Basta ler os jornais, ver a televisão... enfim ir vivendo por cá.
Não estou a defender a Guiné Equatorial, nem a defender a sua entrada na CPLP. É uma questão bastante melindrosa para ser considerada de ânimo leve, nem sequer sei o que estará por detrás desta motivação. É uma questão que terá de ser muito bem ponderada, mas que estou convencido que só engrandeceria a lusofonia, isto estou.
Estou a dizer é que se a Guiné Equatorial entrar para a CPLP não estranhará muito.
Ainda agora os bispos dos países lusófonos denunciaram as “oligarquias do poder político e conómico que, sem qualquer escrúpulo enriquecem à custa dos pobres” e denunciam também a “apropriação indevida de bens que deveriam ser de todos”, dizendo que estão preocupados com novas e sofisticadas formas de corrupção.
Como alguém dizia aqui há uns dias, “um corrupto é um corrupto. Na coreia do Norte, ou nos mares do sul, em cumieiras-de-baixo ou na Côte d’Azur”.
Posso acrescentar: na Guiné Equatorial, em Angola, Moçambique e por aí fora.
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