Augusto Alberto
No dia 24 de Abril deste ano de 2011, 37 anos após o último dia da era fascista, estava um pouco sombrio e a precisar de me erguer. Felizmente, num segundo de sorte, tudo mudou. Num zapping, fiquei no magistral concerto de Richard Galliano no festival de jazz de Nancy. Galliano na companhia de 3 belíssimos violinos, um violoncelo e um contrabaixo, que durante 2 horas nos agarraram com notas sertanejas, do próprio Galliano, tango e Astor Piazzola, imperdível, e sobretudo de belíssimas notas de Bach, saídas do acordeão e harmónica vocal. A cereja em cima da doce espuma dos sons. Sons absolutos e sempre que possível, a repetir. Recuperei naturalmente o brilho dos dias.
E recuperei de quê? Recuperei a paz, depois de ter ficado molestado com o exercício intelectual que foi a entrevista à televisão de Ferro Rodrigues. Como é possível aquele exercício intelectual canalha e retorcido, de alguém que disse, teve preocupações sociais? Ferro Rodrigues portou-se como um cangalheiro, sem a noção do tempo que passa, coleccionando e depois debitando os arquétipos de serviço e da moda, num exercício intelectual repetido até à náusea do nauseabundo exercício de vitimização e de passa – culpas de Sócrates e do Partido Socialista. Ferro Rodrigues depois desta entrevista, a pedido, se perder um tempinho a saber o que dele se diz, só poderá ficar muito dorido. Está ferido! Evidentemente que sempre poderemos dizer, que para quem perdeu a vergonha, a dor não será muita. Exactamente. Mas é aqui que a porca troce o rabo. Porque razão há gente que se coloca neste patamar de bajulice e submissão? No exercício pessoal da procura de um lugar para o remanso dos dias, e, para isso partem sempre do princípio de que estão a falar para gente pouquíssimo exigente e sem vontade de fazer um exercício crítico e de aprendizagem. Assim a modos como falar para carneiros. Compensa, ainda, ao cabo de 37 anos.
Depois, revigorado pelo bálsamo dos sons, aproveitei para recordar os lugares por onde passei no dia 25 de Abril de l974. No Carmo, mesmo na hora. Depois desci à Rua do Arsenal, onde as coisas aqueceram. E no dia 26, exactamente na António Maria Cardoso, a “ouver” a PIDE com tempito ainda para matar. Tinha chegado da guerra há uns diazitos atrás, e por isso só podia estar muito feliz. Só nunca estive preparado para “ouver” o exercício nauseabundo e passa – culpas, após 37 anos, dos que, outra vez, vem empobrecendo esta pátria de quase 9 séculos.
Isto não é tremendismo, é a vontade de dizer a todos os “ferrinhos”, já chega, tenham vergonha, se se acham credores ainda de alguma honra.
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