domingo, 12 de junho de 2011

A Barca que não muda o rumo

Augusto Alberto

A propósito meu último texto, devo dizer que nem tudo foi mau. Por cá, na mesa onde voto, a CDU subiu e bem, de pouco mais de 20 votos para 62. Também é certo que no total nacional as perdas foram cerca de 5.000 votos. Talvez porque alguns patriotas e de esquerda de tão chateados, tenham rumado simplesmente à praia e outros, ainda, de tão ressabiados com o Partido Socialista, tenham votado no PSD. Hipóteses! Contudo, reconheço que nem sempre a mensagem passa, apesar da justeza das propostas e da excelência dos quadros. O que fazer? Desistir! Esse é o desejo de boa gente, mas desenganem-se.

De todo o modo, convém não reduzir as coisas. Concedam-me o direito de afirmar que o adversário é forte e ardiloso. Desde logo, a Igreja. Verifique-se que os momentos capazes de superar a fraterna festa do Avante, são as monumentais festas em Fátima. A Igreja continua a carrear para o redil milhares de carneiros, neste período áureo da caridadezinha, disponíveis ao chamamento ideológico. Sem espinhas. Depois, a imprensa escrita e falada. Toda, de ponta a ponta, funciona como a grande modeladora das consciências e opiniões, e dos mais mediáticos programas da treta foram arredados os comunistas. Fica o singelo exemplo da quadratura do círculo, da TV do amigo de príncipes e ladrões.
Para boa compreensão, deixo aqui um pequeno registo: a propósito da cada vez mais soletrada renegociação da dívida, se a questão for colocada por um alto quadro do PCP, aqui del rei, logo cai o labéu sobre o protesto e o tremendismo do PCP. Mas se entretanto a hipótese for colocada pelo celestial gestor Carrapatoso, ou, em última instância, pelo insigne professor do ISEG, Cantigas, não o avô, mas o João, pois estamos perante um superior e inteligente entendimento teórico e comparativo. Combater a máquina de magistral eficiência, que tem desgraçado a pátria desde há 37 anos, sem que os comunistas tenham tido a mínima participação nas extravagâncias, mas que mantêm a acusação de serem, eles, os grandes responsáveis, não é fácil. Porque, blazé, nacionalizaram tudo o mexia. É só meia verdade. Porque se nada fosse nacionalizado, como ia a “reacção”ainda hoje desnacionalizar e conseguir alguns tostões para continuar a esbornea? Boa pergunta?
Há pouco passei de viés os olhos por um ensaio, a ler em breve, de um jornalista Inglês, radicado há 25 anos em Portugal e que de cá não arreda, por tamanho gosto. Fala de um povo sofredor desde o século XVI e não percebe de onde nos vem o gozo. Desde logo, vítimas da santa inquisição, que fuzilou e queimou gente do calibre de Damião de Góis e António José da Silva. Vitimas de uma surrada e inapta Coroa que borrada, nos deixou órfãos e fugiu na primeira barca das hordas de Napoleão e que depois tremeu com o ultimato inglês de 1890 e ainda nos deu uma rainha puta e um rei corno, como é devido a quem trai, mais a ditadura de João Franco, (parece endémico). Vitimas depois das diatribes da épica 1ª república. Sofredores da 2ª, caldeada no fascismo e na guerra perdida. O júbilo pelo inicio da 3ª. Mas enfim, agora que ainda cá estamos, saboreamos o modo como mais uma vez fomos burlados e de novo vitimas, porque a festa foi curta e já acabou. Cabisbaixos há seis séculos? Porque as elites têm sido uma merda. Mas olhem que de comunistas só se fala há 90 anos. Afinal, onde está o defeito?
Salta à vista que Deus não deu aos comunistas a totalidade das virtudes. Se as tivéssemos, talvez o povo fosse mais povo. Mas Deus deu-nos sobretudo a capacidade de reconhecer, lindamente, os nossos limites, e a vontade de continuar na barca que não muda o rumo.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Em cheio!

Abraço.