domingo, 17 de julho de 2011

Ainda sobre lixo

Augusto Alberto


Em tempo de luta interna no Partido Socialista, para ver quem vem a seguir traulitar, Toninho Seguro propõe uma cultura de afectos entre os militantes socialistas. E logo o Assis diz que tal cultura dos afectos lhe merece repugnância. Não sei porquê, mas algo me diz que nesta coisa dos afectos bem pode o Toninho Seguro continuar a pelejar, porque, pela amostra, estão ao preço das grandes cotações em bolsa e por isso, só quem as tem, os poderá ter. 
Afectos, nem antes com o partido socialista, nem hoje com o partido social – democrata/partido popular, pelo contrário. E para confirmar que os afectos só estão ao preço de uma farta bolsa, disse o nosso meloso e seboso ministro das finanças, guardião da selva, que as grandes fortunas não serão tachadas, ao contrário dos rendimentos do trabalho. E logo um encartado em economes veio explicar: - para evitar que fujam para o estrangeiro. Ora cá está! Eu bem me parecia que com o tempo ainda haveríamos de soletrar aquela assim: - ó tempo volta para trás. Eu lembro. Em tempos de rapaz em que andava ao banho nas salinas de Aveiro, no poço de Santiago, ou corria pelas matas das Gafanhas, por causa dos afectos, talvez por falta deles, dizia-se: - vergonha, é um homem ter mulher e ela fugir para as matas das Gafanhas.
Descaradamente voltamos ao mundo das facadinhas. Enquanto damos no batente e somos matéria sempre disponível, eles copulam sobre os rendimentos do trabalho, nesta selva, de cara levantada e desavergonhada, colocando-nos nesta condição de cornudos, porque teimamos em ser os últimos a perceber os truques, (parece que já há sondagem em que os portugueses maioritários dizem, sim senhor, afagadinho extraordinariamente a 3,5%, é boa ideia).
Por isso, o Tonhinho Seguro, que se deixe de merdas e carícias, porque essa coisa dos afectos só serve para nos continuarem a cavalgar. E ao Assis dizer-lhe que é pena que não saiba colocar a semântica em seu devido lugar. Diria, se soubesse, que repugnância é ele próprio e este seboso capitalismo.
Esta é a nossa vergonha, o nosso lixo e o nosso fado.

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