quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pachorrentamente

Augusto Alberto

Há anos, conheci uma mulher muito católica e muito devota de António Guterres. Também conheci outra, com vida trágica e também muito católica e devota de Adelino Amaro da Costa e por último de Paulo Portas. E também conheci, outra gente, muito católica e também devota de Sá Carneiro e dos seus sucessores, sobretudo desse salta- pocinhas, Santana Lopes e dos sobressaltados do BPN.
Contudo, de todas as devotas e devotos, a mais sincera foi a de Guterres, que por estar abençoado pelo padre Melícias, acreditou que tinha chegado o messias que faria deste mundo um lugar mais nivelado. Nunca acreditei nessa tese e várias vezes lhe disse, até nos aborrecermos em definitivo. De enganos em enganos, os afectos por esse conjunto de pessoas, que sempre baralharam, partiram e deram, nunca confirmaram melhor repartição de riqueza e menos pobreza, antes pelo contrário, como agora nos diz um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, em que os 20% mais ricos têm rendimentos seis vezes superiores (6,1) aos dos 20% mais pobres. De acordo com comparações tendo por base as variações no coeficiente de Gini (utilizado para medir a desigualdade de rendimentos), Israel, Estados Unidos e o Chile ainda são mais desiguais do que Portugal, que está ao nível do Reino Unido nos indicadores da desigualdade. Quem diria! Vejam o que fizeram Reagan, Thatcher e Pinochet e se não nos cuidarmos, será o que farão Passos Coelho, Portas, Gaspar, Álvaro e os demais.
De todo o modo, Mário Soares foi quem mais paixão suscitou. Contudo, lamento desiludir os devotos de Soares, dizendo que continua muito activo, sim senhor, mas acho que já não o apoquenta, (nunca apoquentou), o nivelamento da coisa, mas unicamente vencer mais uma vez e em definitivo o Dr. Cunhal, porque deseja umas exéquias mais estrondosas do que a deste, que ao que se disse, chamou à sua despedida mais de 250 mil pessoas. Por menos, nem que seja por um, será a definitiva e humilhante derrota. Já sei que virá aqui, pelo menos um devoto, que dirá, olhe que não, olhe que não... Está bem, mas digam lá, se não caminhamos pachorrentamente para escravos da elite financeira, neste século XXI?

(Desenho de João Abel Manta)

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