Se fosse possível ver o mundo a partir de um jogo de espelhos, muitos paladinos da liberdade e da democracia ver-se-iam com imagem difusa e focinho de hipócrita. Já sabemos que a Coreia do Norte tem entorses muito para lá do admissível. E é consensual que o mundo”livre” não gosta de Kim Jong-il, como não gosta das multidões esfaimadas do corno de África, mas gostaria da Coreia do Norte, se... Contradição? Nenhuma!
O mundo livre também não gostava de Kadhafi, mas fazia questão de lhe lamber a mão, porque lhe sabia a petróleo. E por isso, a democracia decretou a Coreia do Norte na rota do eixo do mal, contudo, o seu exército mantêm-se confinado aos seus limites territoriais, e nunca arriscou um ataque ao “zelador”, que estando tão longe, tem o seu exército bem perto da sua linha de fronteira. Aliás, é bem sabido que muitos dos actuais paladinos da liberdade ainda hoje procuram as armas de destruição maciça no Iraque. Creio mesmo, que o poeta Havel continua nessa demanda, cavalgando nas asas de um anjinho. E pior. Diante do mal e após lavarem as manápulas no petróleo, como nem Pilatos, deixaram, como é hábito, caminho aberto para longas e profundas vinganças, que irão ferir muitos iraquianos de morte.
Em todo o caso, o modo como os coreanos do norte querem viver e o modo como querem os seus dirigentes, só a eles diz respeito. Tal como só aos portugueses diz respeito a eleição de gentalha como Cavaco, Loureiro, Oliveira e Costa, Duarte Lima, Valentim, Vara, e demais, que nem por isso deixaram de ser, presidente, deputados, ministros e conselheiros do estado, administradores da banca e tutti quanti, e ainda por cima nos estão a obrigar a voltar à sopa dos pobres. Aliás, que diferença há entre estes senhores e Kim Jong-il? Os de cá são doutores, e o Kim um ditador. Ah, mas se o Kim fosse um amoroso ditador, como são amorosos os ditadores do Golfo (Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos), e os que até há bem pouco governaram no Egipto, Argélia e Tunísia, e ainda esse exemplo do socialismo de rosto humano, na Venezuela, Carlos André Perez, e acima de todos, o sanguinário e fantoche sul vietnamita, Ngo Dinh Diem, que bom que era, porque, da Coreia do Norte até à China era um vôozinho, a fazer mesmo em aviãozinho de papel. E dele se diria, que sustentável leveza.
Falemos da Coreia, sim senhor, do mesmo modo que dizemos que dentro do actual quadro político, cá estaremos a trabalhar para alterar os acontecimentos, sem intromissões, que é aquilo que deverá ser feito por todos os coreanos.
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