quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vadios

Augusto Alberto

Para chegar ao Olímpo, o homem deverá carregar no bojo, duas condições essenciais. Ter fina inteligência e astúcia na acção. Liu Xiaobo, famosíssimo dissidente chinês, que também andou de rostilhão pelo chão da praça Tianamen, esforçou-se e consegui provar essas inatas qualidades. Xiaobo defendia, em 1988, que a China necessitava de outros 300 anos de dominação colonial e de um agressivo programa de privatizações para se tornar um país decente. Estas convicções voltaram a ser expressas pelo agora Nobel da Paz, em entrevista ao South China Morning Post, num artigo datado de 2010. Xiaobo mantém, no fundamental, as suas teses para uma China democrática, que antes de tudo, passará por uma China de novo colonizada.

Também o nosso 1º ministro, Passos, regouga no Olímpo, com as mesmas virtudes. Inteligência fina quando discorre sobre a pobreza que nos invade e aceitação, astuta, do novo colonialismo, quando aceita inscrever na Constituição, a favor do capital financeiro europeu e americano, a clausula que obriga ao deficit do estado de 0.5. Evidentemente que num país que pouco produz para o seu próprio consumo, essa clausula constitucional produzirá um mais vasto descompromisso social por parte do estado, para com os mais necessitados, com o avanço concomitante de mais e maior pobreza.
Xiaobo e Passos, foram alcandorados ao Olímpo, cavalgando sobre a fineza e a astúcia. Contudo, a Xiaobo ainda falta considerar a reposição, nos parques, das placas do tempo colonial, sobre o domínio de sua majestade britânica, que dizem: “proibida a presença a cães e a chineses”. E a Passos ainda lhe falta, também, mandar pregar, por opção de classe, nas paredes que delimitam as praças das nossas vilas e cidades, as placas do reino de Salazar, que declaram: “proibida a mendicidade”.
Já há muito tempo que desconfio que para atingir o Olímpo, são precisas as virtudes que conformam os mais solenes vadios e escroques.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Excelente texto!

Um abraço.