Augusto Alberto
Sabe que na União Soviética se distribuíam senhas por
alimentos? E ainda que os camaradas do Comité Central do Partido comiam
criancinhas ao pequeno-almoço? Se não sabe, não faz mal. Sempre aproveito para
dizer que nos Estados Unidos se está a viver um tempo de anti-climax, porque,
pelo contrário, são os banqueiros de Wall Street, quem comem correntemente o
pequeno-almoço às criancinhas.
Melhor dizendo são 47 milhões, cerca de 15% do total dos americanos,
que só sobrevivem à fome, porque o estado fornece senhas por alimentos básicos.
E como a fome é pandémica, do lado de cá do Atlântico, também na pátria
aprisionada por banqueiros, um secretário de estado confirmou que 10 mil
meninos portugueses têm fome. Caracterizando essa fome, explicou um atento
professor: “muitos têm por jantar um
pratinho de papas de cerelac ou Nestum, e os pratos do almoço de segunda-feira
no refeitório da escola, saem limpinhos, tal foi a fome no fim-de-semana que
passou”. Perante a evidência, indica o manhoso “governante” que as famílias
em causa sejam enviadas para o banco alimentar contra a fome, da “tia”
Isabelinha, que com imprudência, se descobriu.
É pois imperioso que se diga a verdade. É certo que muito povo
cedeu às lérias maviosas do consumo e da banca e acreditou que as vantagens do
capitalismo seriam eternas. Mas também é verdade que a elite, abalada no seu
sossêgo em 1974, logo que retomou a dianteira de classe e recapturou a
totalidade do estado, faz da pátria uma esbórnia e está calmamente a tirar
desforço da derrota. Por isso, dando uso à evidência semântica, deve ser dito,
que os juros do clímax consumista e da incapacidade politica de nunca termos
sido capazes de dar um chuto na rotatividade, verdadeira trincheira dos
herdeiros do fascismo, aí estão.
E a Isabelinha, que pelos vistos gosta de fazer do “banco”
um caritativo amortecedor da fome, certa de classe e nada confusa, manda que se
corra abaixo o taipal e não se coma bife, mas se gaste produtos da Nestlé,
porque ao mesmo tempo que a nestlé agradece, o cidadão lá se vai mantendo em
pé.
Para nosso infortúnio, seja em Nova Iorque, em Atenas,
Madrid, Paris, Londres, Roma ou Lisboa, há sempre um banco alimentar que vale
aos desvalidos. Contudo, deveria sobretudo merecer a nossa mais nobre atenção o
facto desgraçado, de outra vez nesta pátria de 900 anos, boa parte do futuro de
uma geração, a actual, dos 6 aos 15anos, estar já a ser liquidado. Não o
aflige?
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