Augusto Alberto
Será assim tão fácil que um lavrador, um sapateiro, ou não
importa quem trabalhe noutro ofício possa ser ao mesmo tempo um bom jogador de
damas ou dardos se não se dedicar a isso e a nada mais, desde a sua infância,
mas apenas jogar ocasionalmente? Platão, percebeu, há mais de dois mil anos,
que para se ser um excepcional desportista, tem de se ser um profissional. Esta
observação, destrói delírios e equívocos, muito comuns, a quem acredita, nesta
área, na sorte e em anjos.
Delírio e equívoco é julgar que se pode vencer a Volta à França,
Espanha ou Itália, ou duas, no mesmo ano desportivo, fazendo unicamente apelo
ao profissionalismo probo e estóico. Comendo pela manhã suculentas taças de
esparguete, durante a etapa barrinhas energéticas e, antes do deitar, outras
tantas taças de esparguete.
Armstrong, depois de muito instado, foi claro. Tripudiou
sobre a verdade desportiva, porque as cargas emocionais e a necessidade de
recuperar, tão rápido, entre somadas agressões fisiológicas, como as sucessivas
etapas de montanha, no sentido de manter pleno o espectáculo, é tão necessário,
sem a qual as mensagens que sublinham esta economia desportiva não passarão.
Ninguém fica agarrado à transmissão de uma etapa numa grande
volta se os artistas, acabarem exauridos e com a bicicleta pela mão. O jogo
precisa de explorar paixão, agilidade, loucura, drama, táctica e estratégia de
equipa e resposta, dos pontos de vista físico e emocional. De outro modo, quem
aposta? Viciado o jogo, é verdade, e por isso, Armstrong foi arrojado sujeito
principal e ao cabo de 7 memoráveis anos, acabou vítima e vilão. Mas o
espectáculo, furioso de beleza física e emocional, tem de continuar, nem que
para isso tenha de se auto-regenerar e, de quando em vez, um dos melhores tenha de cair para dar a imagem de que o negócio é de confiança.
Este jogo, sem jokers, será um fracasso. No ciclismo de
ponta não existe o clube como ideologicamente e emocionalmente o conhecemos.
Há marcas. Como o caso da equipa Rabobank, associada ao banco do mesmo nome.
Ameaças de retirar o ciclismo do movimento olímpico, como já ouvi, são pura
rábula. Os interesses estruturais e económicos, são mais poderosos.
Mas façamos, também, o exercício da transumância dialéctica,
passando do doping fisiológico ou mecânico, para o político. Desiluda-se quem
acha que a canalha colaboracionista se manteria à tona sem a grotesca pata, diga-se "doping", colonial do FMI e comunidade europeia.
Nem o Partido Socialista. Diga
ele que vem dar uma mão ao terror capitalista sem emborcar o “doping” axaropado
do socialismo de rosto humano ou em liberdade, e logo verá como cai da
bicicleta ao chão.
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