terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Mondego que une

Augusto Alberto



Terra danada, esta. Dirigida por uma elite bafienta que procura, viciada, os raios de sol que a aqueçam, na razão oposta da friagem das suas ideias e compromissos. Ao ponto de ir por aí uma discussão troglodita, a propósito de um assunto sério, como é o caso, que tende a filar um novo clube, sobre os escombros da Associação Naval 1º de Maio. Qualquer coisa, como Naval 1893. Se assim for, a estultícia é grande. Porque “Naval”, indica água, barcos, (as gigas), homens e rio. Como Cachola, que no apogeu da vida, em1933, se colocou na condição de herói insano, porque a meio de uma regata, e na sequência de um acidente técnico, sem saber nadar, se atirou à água, para ser recolhido cadáver, horas após, agarrado ao pegão da velha ponte, que ligou a cidade à Ilha da Morraceira, no caminho para sul.
Ou ainda, o grande Edmundo, de quem disseram os ingleses do Rowing Clube de Londres, presença assídua nas majestosas regatas Internacionais, (com as margens cobertas de gente, digo margens, sim, que faria, hoje, inveja a muita assistência em jogos das ligas profissionais de futebol), ser o remador mais bravo que alguma vez observaram.
Ou ainda Zezinho, o terrível, o último da primeira grande geração de remadores da cidade. Ou bem mais perto, Manuel Parreira e Luciana Alçada, ambos finalistas nos respectivos campeonatos do Mundo.
E reafirmar que foi precisamente devido à obsessão pelo futebol que a Associação Naval 1º de Maio se tornou irrelevante, do ponto de vista patrimonial, do ponto de vista dos quadros, que são peças fundamentais em qualquer projecto desportivo, e vai a caminho da irrelevância desportiva e social.
Ficarão parcos registos, porque os melhores foram devorados pelas chamas, e a memória, que se apagará inexoravelmente, por morte biológica, de um clube que congregou os figueirenses, não só no Rio, mas também nas tardes de futebol, (esse sim, jogado por gente da nossa terra), no velho campo da Mata, (Tó Pinto, Pinto Machado, emérito guarda-redes e remador) e outros, mais tarde também, no estádio municipal, nas matinés dançantes, e nas da ginástica acrobática, no teatro, com o exclusivo “Casamento da Vasca”, nos jogos de basquete, (no S. Siro), de Ténis de Mesa, ou no tiro de sala, na sua engenhosa carreira de tiro, tudo, na velha sede da Rua da República, que também serviu para tratar e confortar combatentes chegados em péssimo estado, da 1ª guerra mundial.
É imperioso deixar de apoucar e arreliar a história, que é quase o pouco que ainda resta, e perceber que as soluções para resolver o problema de uma colectividade, com mais de 120 anos, não passa por acabar com ela, e sobre os seus escombros e a sua história, construir uma outra, rebuscando o substantivo e a data, (1893), para prosseguir um modelo que se revelou inábil, mas manter e reforçar o pouco que ainda resta e acabar com o futebol profissional, que foi quem colocou a Associação Naval 1º de Maio, no estado de catalepsia, há custa de promessas e do recrutamento de gente, calçada com sapatos de pelica ou chuteiras, muita dela, sem saber que a cidade tem um rio, que não sendo maior do que outros, é, contudo, o rio mais belo.

O destino de uma colectividade com mais de 120 de vida, não merece esta discussão troglodita, porque, Ela, pode para acabar mal. 

3 comentários:

Anónimo disse...

Esta foto parece-me que é das Regatas Internacionais mas de que ano?
JM

alex campos disse...

Penso ser dos anos 30, uma prova em que participaram equipas da Holanda, França e Inglaterra.
Pelo público dá para ver que o futebol ainda não tinha o "efeito eucalipto".

Anónimo disse...

O texto excelente que demonstra bem de onde a Naval nasce e acima de tudo aquilo que o remo representa(ou) na Figueira.
A foto reforça bem essa importância, mesmo só vendo as pessoas que se encontravam nos barcos fundeados no meio do rio e apenas imaginando as que estariam na margem ...