Augusto Alberto
Terra danada, esta. Dirigida por
uma elite bafienta que procura, viciada, os raios de sol que a aqueçam, na
razão oposta da friagem das suas ideias e compromissos. Ao ponto de ir por aí
uma discussão troglodita, a propósito de um assunto sério, como é o caso, que
tende a filar um novo clube, sobre os escombros da Associação Naval 1º de Maio.
Qualquer coisa, como Naval 1893. Se
assim for, a estultícia é grande. Porque “Naval”, indica água, barcos, (as
gigas), homens e rio. Como Cachola, que no apogeu da vida, em1933, se colocou
na condição de herói insano, porque a meio de uma regata, e na sequência de um
acidente técnico, sem saber nadar, se atirou à água, para ser recolhido
cadáver, horas após, agarrado ao pegão da velha ponte, que ligou a cidade à
Ilha da Morraceira, no caminho para sul.
Ou ainda, o grande Edmundo, de
quem disseram os ingleses do Rowing Clube de Londres, presença assídua nas
majestosas regatas Internacionais, (com as margens cobertas de gente, digo
margens, sim, que faria, hoje, inveja a muita assistência em jogos das ligas profissionais
de futebol), ser o remador mais bravo que alguma vez observaram.
Ou ainda Zezinho, o terrível, o
último da primeira grande geração de remadores da cidade. Ou bem mais perto,
Manuel Parreira e Luciana Alçada, ambos finalistas nos respectivos campeonatos
do Mundo.
E reafirmar que foi precisamente
devido à obsessão pelo futebol que a Associação Naval 1º de Maio se tornou
irrelevante, do ponto de vista patrimonial, do ponto de vista dos quadros, que
são peças fundamentais em qualquer projecto desportivo, e vai a caminho da
irrelevância desportiva e social.
Ficarão parcos registos, porque
os melhores foram devorados pelas chamas, e a memória, que se apagará
inexoravelmente, por morte biológica, de um clube que congregou os figueirenses,
não só no Rio, mas também nas tardes de futebol, (esse sim, jogado por gente da
nossa terra), no velho campo da Mata, (Tó Pinto, Pinto Machado, emérito
guarda-redes e remador) e outros, mais tarde também, no estádio municipal, nas
matinés dançantes, e nas da ginástica acrobática, no teatro, com o exclusivo
“Casamento da Vasca”, nos jogos de basquete, (no S. Siro), de Ténis de Mesa, ou
no tiro de sala, na sua engenhosa carreira de tiro, tudo, na velha sede da Rua
da República, que também serviu para tratar e confortar combatentes chegados em
péssimo estado, da 1ª guerra mundial.
É imperioso deixar de apoucar e
arreliar a história, que é quase o pouco que ainda resta, e perceber que as soluções
para resolver o problema de uma colectividade, com mais de 120 anos, não passa
por acabar com ela, e sobre os seus escombros e a sua história, construir uma
outra, rebuscando o substantivo e a data, (1893), para prosseguir um modelo que
se revelou inábil, mas manter e reforçar o pouco que ainda resta e acabar com o
futebol profissional, que foi quem colocou a Associação Naval 1º de Maio, no
estado de catalepsia, há custa de promessas e do recrutamento de gente, calçada
com sapatos de pelica ou chuteiras, muita dela, sem saber que a cidade tem um rio,
que não sendo maior do que outros, é, contudo, o rio mais belo.
O destino de uma colectividade
com mais de 120 de vida, não merece esta discussão troglodita, porque, Ela,
pode para acabar mal.
3 comentários:
Esta foto parece-me que é das Regatas Internacionais mas de que ano?
JM
Penso ser dos anos 30, uma prova em que participaram equipas da Holanda, França e Inglaterra.
Pelo público dá para ver que o futebol ainda não tinha o "efeito eucalipto".
O texto excelente que demonstra bem de onde a Naval nasce e acima de tudo aquilo que o remo representa(ou) na Figueira.
A foto reforça bem essa importância, mesmo só vendo as pessoas que se encontravam nos barcos fundeados no meio do rio e apenas imaginando as que estariam na margem ...
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