quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Toda a vida é dívida, toda a vida é fado

Augusto Alberto


Anos após Hitler receber o poder democraticamente, recorde-se, oferecido pelo voto do povo alemão, Goebels, assistiu a um concerto dado pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Wilhem Furtwangler, em honra da Juventude Hitleriana. Primeiro, o mestre botou palavra, perante grandes dignitários civis e militares do fascismo alemão, e depois ouviu-se a 9ª sinfonia, como muito bem mostra, a propósito, um documentário que passa, amiúde, no canal Mezzo. Furtwangler, à época, era figura maior da cultura alemã, contudo, não é certo o seu affaire com o fascismo. Todavia, por cá, os opinadores de colarinho branco, sem receios e restrições, colaram-se aos poderes reinantes, ainda que nenhum, apesar da cagança e jactância, se aproxime do nível de Goebels. Mas não se julgue que não fazem mossa. Fazem, sim! Por isso, alguns Goebel(zinhos) domésticos, que bem conhecemos de ginjeira, afadigam-se na tese da recuperação, omitindo, contudo, o essencial da questão. E ela é... o programa cautelar, foi o manto diáfano, que permitiu cavalgar a baixa do custo unitário do trabalho e a transferência da maior parte da riqueza produzida, para um punhado de bandidos, em linha com a filosofia “fascista”, de catapultar algumas famílias, a donas da nação.
Alexandre Soares dos Santos levou vantagens fiscais, que depositou na Holanda. A Mota-Engil, mais o futebol doméstico, usufruíram de gordas subvenções. No primeiro caso, 8.142 milhões de euros e no segundo, 9 milhões. Contudo, após anos de tarraxa, o défice achado para o ano de 2013, ficou em 5.6%. Seria suposto ficar em 2%, na hora da despedida. A divida soberana da nação, trepou de 127%, para 129%. E aqui reside a mãe de todas as pérfidas. As maturidades em referência à divida da Nação, foram as que mais renderam aos credores internacionais, 6.6%. Mais dos que as maturidades grega, espanhola ou irlandesa. Ora cá está, por que razão, as hienas consideram a divida soberana portuguesa um figo maduro e por isso, não abdicam de a trazer inscrita no excel, segura por uma corda, a arroxear os nossos pescoços.
Salazar e o fascismo dirigiram esforços e muitos meios, para a criação de grandes monopólios industriais, mas agora, este “fascismozinho”, saído do 25 de Novembro de 1974, remete riqueza e meios, para as áreas da saúde, ensino e distribuição. Uma espécie de fascismo de merceeiro, que inexplicavelmente colhe o apoio eleitoral da maioria dos portugueses, como colheu, dos alemães, Hitler e o seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Desenganem-se os que acham que o actual estado democrático, é neutro. Pelo contrário, é um estado de classe, que protege gente cavernosa e mal cheirosa, tal como o estado fascista alemão protegeu a elite industrial e financeira, arruinada e dilacerada por múltiplas contradições. Por isso, toda a vida é dívida, toda a vida é fado.

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