Quando o inefável e bonacheirão e faraónico ministro diz que “nem sempre somos felizes no que dizemos”, está, para além de uma mera exibição de falsa modéstia, a fazer de nós parvos. Isto porque ele sabia muito bem o que estava a dizer e o que estava a defender, ao ponto de cair no ridículo de considerar aquela região (Sul do Tejo) um deserto. Não defendeu a política do seu governo com convicção, até porque aquela gente não é de convicções. Defendeu-a porque estava programado para tal.
Ora, a decisão era para a OTA, fosse de que maneira fosse. E o ministro defendeu a tese com denodo. Aí nada a dizer. A lealdade ao dono é de enaltecer (até rimei).
Mas houve um volte-face. E simplesmente porque não há poder político, o que é grave. Este é que teria de definir onde ficaria ou não ficaria o aeroporto. Mas não existe. Existem comissários políticos a soldo de lobbies poderosos. Os do poder económico, sempre especulativo. E este resolveu outra coisa. E deu nisto. Resolveram que seria no “deserto” a localização do dito aeroporto. E como quem manda é quem pode…
Mas depois de uma trapalhada destas só restaria ao dito ministro uma saída airosa, digna: a demissão. Restaria, se houvesse vergonha, dignidade, mas enfim. Acrescentaria mais: ao ministro e aos seus correligionários do governo.
O resto da confraria xuxa é a mesma coisa. Veja-se o que se passa na saúde. Anda o ministro a fechar hospitais, a retirar valências a outros, para o bem comum, diz ele, para melhorar os serviços, diz ele.
O que se passa no hospital da Figueira da Foz é paradigmático e desmente-o. Em poucos anos reduziu para metade o número de consultas externas e cirurgias, os figueirenses passaram a nascer ou nas urgências ou na auto-estrada. Tudo em nome da produtividade? Isto confunde-me. Sempre pensei, e cresci com essa convicção, e eu sou pessoa de convicções, de que os hospitais eram sítios para tratarem as pessoas. E como é que o ministro consegue esta perfomance? Fácil: contam com a dedicação e eficiência de uma comissão (de liquidação?), devidamente escolhida e nomeada, que tal como os ministros, obedecem cegamente, estão bem programados, e lá vão levando a água ao seu moinho.
No antigamente, no tempo da ditadura, dizia-se “há sempre alguém que diz não”. Agora, nova versão, (lá estou eu a rimar outra vez) “há sempre alguém que se põe a jeito”.
Será esta a diferença?
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2 comentários:
O meu comentário está no post que fiz.
Se quisesse comentar o texto que coloquei em Silêncio Culpado, cujo link está nas minhas Netamizades, ficaria grata.
boa semana.
“nem sempre somos felizes no que dizemos”, admitem eles... talvez!...
O pior é que nós quase sempre somos infelizes "se os ouvirmos".
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