Escreveu como viveu, e como amou e, ironia do destino, como também morreu. Ou seja, freneticamente. O mar encapelado de vicissitudes em que gastou a vida não lhe deu tempo para escrever um grande romance. Não deixa de ser, contudo, um dos melhores prosadores da língua portuguesa. De todos os tempos.
Recomendo a sua leitura. É uma delícia. E sem dúvida um dos melhores “vintages” produzidos por toda a literatura portuguesa.
O livro, cuja capa reproduzo, comprei-o em Chaves, numa loja de antiguidades, em 2002, uma 3ª edição, fazia, na altura 100 anos.
Um cheirinho do prefácio (do qual mantive a ortografia e a acentuação originais):
“Em quanto á influencia do romance nos costumes, estou mais que muito desconfiado de que o romance não morigera nem desmoralisa.
Porém, admitida a ponderação que lhe alvidram os exhortadores dos pais de família, não sei decidir como se ha de escrever o romance fautor da sã moral. São dois os expedientes: levar os personagens viciosos ao despenhadeiro; ou crear anjos n’ um paraíso sem serpente.
Na primeira espécie, mostra se a lucta de virtude e crime: natural e concludentemente triumpha a virtude. E’ o costume com sacrifício, ás vezes, da verosimilhança.
Na segunda forma de romancear, a virtude recebe as ovações sem batalha. O romancista põe peito á reformação das obras de Deus, e corrige-as. Quando os seus personagens se avisinham de algum sujo aguaçal, em que é uso a gente commun salpicar as botas, atam lhes as asas de serafins, e largam-lhe trella por esse azul dos céus dentro, até lhes vir a geito poisal-os em alegretes de flores.
São estes os romances que moralisam, ou os outros? E’ a minha dúvida”.
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