domingo, 29 de junho de 2008

Arriverdeci, Scolari (croniqueta de fim-de-semana)

Muito se tem falado, e escrito, da passagem de Scolari pela selecção portuguesa. Ele conseguiu ganhar quer admiradores quer detractores, o que, em boa verdade, atesta que não passou indiferente.
Mas terá acrescentado algo de muito positivo ao ponto de se considerar a melhor fase de sempre da equipa das quinas? Analisando os resultados, penso que não.
Nos dois campeonatos da Europa logo anteriores à sua vinda convenhamos que os resultados foram idênticos. O treinador campeão do mundo conseguiu não vencer uma final, em casa, frente a uma equipa de segundo plano, depois de ter feito o mais difícil, isto é, chegar ao derradeiro jogo. E, possivelmente, se lá chegou foi muito devido ao factor casa, pois noutras circunstâncias o golo anulado à Inglaterra nunca o teria sido. Comparando, no Euro anterior, em 2000, Portugal foi eliminado na meia-final num jogo em que a vitória poderia ter pendido para qualquer dos lados, com a nuance do adversário ser o campeão do mundo em título e se ter consagrado vencedor depois de, na final, conseguir vulgarizar e humilhar os sempre difíceis italianos. Claro que tinham uma equipa de sonho.
Este ano Portugal ficou pelos quartos-de-final, após ter sido batido pelos gélidos alemães, muito mais por culpa própria do que pelo talento e mérito da mannschaft. Em 1996 também deu quartos-de-final, com o inesquecível chapéu de Poborski. Portanto, resultados idênticos, só que antes não havia os melhores jogadores do mundo nem a equipa mais cara.
Pronto, está bem, ficamos em quarto lugar num mundial. Mas também já tínhamos um 3º, conseguido no país da equipa vencedora e depois de incidentes adversos, como se sabe. Em 1966 o certame foi feito à medida para dar a vitória aos organizadores. Aliás penso que é o único troféu internacional que eles têm.
Agora, de positivo Scolari trouxe uma maior proximidade dos adeptos à selecção, tornou-a mais mediática. Trouxe aquela novidade, o burlesco folclore das bandeirinhas espalhadas por tudo o que é sítio, o que teve, digamos em abono da verdade, um certo peso na economia, pois nunca em tempo algum se houvera comercializado tanto pano, muitos dos quais vinham com pagodes em vez de castelos. A ideia original das bandeirinhas nem foi do treinador brasileiro, foi do professor das homilias dominicais.
Acontece que este mediatismo todo, esta importância desmesurada atribuída aos eleitos, terá provocado resultados nefastos. Estoirou-lhes com o ego, tanto que a preocupação de alguns deles, a julgar pelas notícias diárias nos jornais e televisões, era arrasar os contratos que tinham assinado, penso que em consciência, com as suas equipas para partir para outras com contratos do outro mundo, fabulosos. Iam fazendo pela vidinha, o que é incompatível com a representação de uma selecção. Mas Scolari também fez. Pela sua vidinha e pela vidinha do seu novo patrão. Viu-se que Bosingwa não estava lá, mas jogou. Sabe-se que Ferreira não estava rotinado a lateral esquerdo, mas esteve lá. Ricardo irá para o Chelsea? Isso já não interessa.
Porque sempre julguei, e sempre tive essa convicção, que representar uma selecção era um objectivo por si só. É o que se passa nas outras selecções, seja de futebol seja de outras modalidades, estou a lembrar-me do seleccionado de rugby, os Lobos. Os quais não tivemos oportunidade de ver em canal aberto.
Considero a selecção portuguesa uma das mais fortes do mundo, pelo menos tecnicamente. Evidente, nem sequer treinador de bancada sou. Mas que faltou empenho onde sobraram preocupações, será inegável. Apesar dos dois golos marcados à Alemanha. Também os turcos os marcaram, com uma equipa de recurso. Também os croatas marcaram, e ganharam.
César Menotti, campeão do mundo pela Argentina em 1978, viu assim a equipa portuguesa: “Este Portugal joga como lhe sai. Não se trata de tentar programar a acção, que a organização seja concebida para obedecer a uma programação, mas ao menos utilizar uma certa estratégia para entender o jogo. Por momentos passam a bola uns para os outros sem saber porquê e, por momentos, com superioridade numérica, rematam à baliza de posições insólitas ou lateralizam e cruzam para quem quer que seja. Assim, tudo é mais difícil”.
Venha daí um seleccionador português, já.

2 comentários:

samuel disse...

Venha então outro seleccionador... mas com menos barulho, por favor!

Anónimo disse...

Esta saiu, muito bem, à "trinador" de bancada. Agora português, o treinador? Não. Preferia um que fale italiano, embora português. Mas da pessoal preferência não rezará a história. Lá mais para a frente, quem sabe.