por Augusto Alberto
Ora cá está. Nunca me passou pela cabeça ver numa fotografia, Ingrid Bettencourt a banhos. Aliás, deixem-me dizer, roliça de carnes. Sim senhor… Os meus parabéns.
Mas essa fotografia remete-me para lembranças passadas, de há muitos anos, em que convivi com gente da América Latina. Brasileiros, do tempo dos generais, que me falaram da pilhagem e das torturas, talvez a mais famosa em toda a região, o pau-de- arara. Aliás, do Brasil ainda é recente a morte dos meninos pobres na Igreja da Candelária às mãos de esquadrões da morte, pagos por gente que detestava ser incomodada. Com argentinos, com quem mantive uma relação tão afectuosa que me foi difícil despedir para sempre, recordo histórias da repressão da ditadura dos coronéis. Violentíssima! Era comum despachar os resistentes empurrando-os dos aviões para o oceano. Aliás, prática utilizada pela Pide em Moçambique, para fazer desaparecer quadros da Frelimo em pleno Indico. Não vale tirar o cavalo da chuva, nem esquecermos este pedaço da história Pátria. Da Argentina fica e ainda persiste o movimento das mães e esposas da Praça de Maio, sempre na sua pergunta pelos filhos e maridos, e constantemente sem respostas, como é óbvio. Mas as histórias do Chile estavam frescas, muito frescas. O Chile ainda estava zonzo da barbárie. Aliás, é bom recordar a passagem de uma figura sinistra, que por lá e por cá passou, amigo de gente de bem, especialista em trabalho soturno, para o qual esteve sempre talhado, e bem. Carlucci, personagem também dessa coisa suez que é a história do Freeport de Alcochete. Os coirões sempre confluem no mesmo tempo e espaço.
Do Chile, contaram-me histórias de rara violência. Enjaulado no grande estádio de Santiago, falaram-me da tortura sobre o cantor Victor Jara, decepado até à exaustão. A procura casa a casa e o abate a frio sem resistência. Neruda morreu breve. Mas espantoso foi o modo como me foi explicado a preparação do golpe. Num dado momento todo o sistema de transportes foi parado e damas, que nunca tiveram fome, antes pelo contrário, durante muitos anos viveram no desperdício, sentiram naquele momento um vazio no estômago e desataram em hora marcada a bater com os testos dos tachos e panelas no chão das ruas e avenidas em sinal de protesto pela fome que passava. Uma variante macabra dessa tenebrosa oligarquia.
E agora paro eu e deixo Neruda falar, para sublinhar a verdade.
- O Chile tem uma longa história civil…e só dois grandes presidentes, Balmaceda e Allende.
- Allende foi assassinado por ter nacionalizado…o cobre… a oligarquia chilena organizou revoluções sangrentas… As companhias inglesas no tempo de Balmaceda, a norte – americanas no tempo de Allende, fomentaram e apoiaram esses movimentos militares.
- Nos dois casos, as casas dos presidentes foram esvaziadas por ordem dos nossos distintos “aristocratas”.
-Escrevo estas rápidas linhas para as minhas memórias apenas três dias sobre os factos inqualificáveis que levaram à morte o meu grande camarada: o presidente Allende.
Pouco tempo depois de ter redigido estas linhas, escritas num livro a que genericamente se deu o título, “Confesso que vivi”, Neruda morreu cansado e triste, mas dessa feita no dia do funeral a tropa sossegou e permitiu que tudo acontecesse, em paz. Mas antes de terminar, quero lembrar a quem anda distraído ou sem memória, que, como aqui conto, houve um outro 11 de Setembro, antes do 11 de Setembro das torres gémeas. Foi precisamente o do Chile em 73. Para os efeitos, convêm esquecer o primeiro. Pois é! Desiludam-se aqueles que acham que a natureza do império vai agora mudar.
A Ingrid foi a banhos e apresentou-se-nos suculenta após tempo em que esteve quase às portas da morte, disse-se, mas não sei se ela sabe que a Colômbia continua como o Chile de Pinochet. O que acho é que para ela tanto faz, logo que os banhos lhe saibam bem…
Mas essa fotografia remete-me para lembranças passadas, de há muitos anos, em que convivi com gente da América Latina. Brasileiros, do tempo dos generais, que me falaram da pilhagem e das torturas, talvez a mais famosa em toda a região, o pau-de- arara. Aliás, do Brasil ainda é recente a morte dos meninos pobres na Igreja da Candelária às mãos de esquadrões da morte, pagos por gente que detestava ser incomodada. Com argentinos, com quem mantive uma relação tão afectuosa que me foi difícil despedir para sempre, recordo histórias da repressão da ditadura dos coronéis. Violentíssima! Era comum despachar os resistentes empurrando-os dos aviões para o oceano. Aliás, prática utilizada pela Pide em Moçambique, para fazer desaparecer quadros da Frelimo em pleno Indico. Não vale tirar o cavalo da chuva, nem esquecermos este pedaço da história Pátria. Da Argentina fica e ainda persiste o movimento das mães e esposas da Praça de Maio, sempre na sua pergunta pelos filhos e maridos, e constantemente sem respostas, como é óbvio. Mas as histórias do Chile estavam frescas, muito frescas. O Chile ainda estava zonzo da barbárie. Aliás, é bom recordar a passagem de uma figura sinistra, que por lá e por cá passou, amigo de gente de bem, especialista em trabalho soturno, para o qual esteve sempre talhado, e bem. Carlucci, personagem também dessa coisa suez que é a história do Freeport de Alcochete. Os coirões sempre confluem no mesmo tempo e espaço.
Do Chile, contaram-me histórias de rara violência. Enjaulado no grande estádio de Santiago, falaram-me da tortura sobre o cantor Victor Jara, decepado até à exaustão. A procura casa a casa e o abate a frio sem resistência. Neruda morreu breve. Mas espantoso foi o modo como me foi explicado a preparação do golpe. Num dado momento todo o sistema de transportes foi parado e damas, que nunca tiveram fome, antes pelo contrário, durante muitos anos viveram no desperdício, sentiram naquele momento um vazio no estômago e desataram em hora marcada a bater com os testos dos tachos e panelas no chão das ruas e avenidas em sinal de protesto pela fome que passava. Uma variante macabra dessa tenebrosa oligarquia.
E agora paro eu e deixo Neruda falar, para sublinhar a verdade.
- O Chile tem uma longa história civil…e só dois grandes presidentes, Balmaceda e Allende.
- Allende foi assassinado por ter nacionalizado…o cobre… a oligarquia chilena organizou revoluções sangrentas… As companhias inglesas no tempo de Balmaceda, a norte – americanas no tempo de Allende, fomentaram e apoiaram esses movimentos militares.
- Nos dois casos, as casas dos presidentes foram esvaziadas por ordem dos nossos distintos “aristocratas”.
-Escrevo estas rápidas linhas para as minhas memórias apenas três dias sobre os factos inqualificáveis que levaram à morte o meu grande camarada: o presidente Allende.
Pouco tempo depois de ter redigido estas linhas, escritas num livro a que genericamente se deu o título, “Confesso que vivi”, Neruda morreu cansado e triste, mas dessa feita no dia do funeral a tropa sossegou e permitiu que tudo acontecesse, em paz. Mas antes de terminar, quero lembrar a quem anda distraído ou sem memória, que, como aqui conto, houve um outro 11 de Setembro, antes do 11 de Setembro das torres gémeas. Foi precisamente o do Chile em 73. Para os efeitos, convêm esquecer o primeiro. Pois é! Desiludam-se aqueles que acham que a natureza do império vai agora mudar.
A Ingrid foi a banhos e apresentou-se-nos suculenta após tempo em que esteve quase às portas da morte, disse-se, mas não sei se ela sabe que a Colômbia continua como o Chile de Pinochet. O que acho é que para ela tanto faz, logo que os banhos lhe saibam bem…
5 comentários:
Ou seja: quando e onde for necessário, a Ingrid também baterá com as tampas dos tachos...
Um abraço.
Mas que grande salganhada conceptual e formal só para espetar ignóbil ferroada na Ingrid.
Há certos detentores da verdade pura e inquestionável, a quem lhe foge a mão da escrita para vingança mesquinha da finta que a História lhes pregou !!!!!
Essa coisa dos tachos deve ser contagiosa. Não é que se repete de vez em quando na Venezuela!?
Nunca me enganou!
O que não falta, são Ingrides, fritas cosidas assadas...e tostadinhas, tambem são muito saborosas, por enquanto.
Vamos esperar que a história, nos dê razão, porque a justiça, essa anda vesga.
Abraço
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