quarta-feira, 14 de abril de 2010

14 de Abril ou a cada um o herói que merece

Tenho a felicidade, ou infelicidade, de ter duas pátrias. Li, aqui, que “a dimensão da pátria vê-se pela estirpe dos heróis que reconhece”.
Tenho os meus heróis em cada uma delas. Muitos. Bastantes. E, com regimes parecidos, parece-me que o respeito por eles é diferente em cada uma delas.
Hoje, 14 de Abril, celebra-se em Angola o Dia da Juventude. Em homenagem a um comandante da guerrilha. A um nacionalista. Mas há muitos mais. Poderia falar de Agostinho Neto, António Jacinto, António Cardoso. O comandante Valódia. E muitos mais.
Dos portugueses, posso referir Alfredo Dinis, mais conhecido por Alex, o único militante do PCP que ficou conhecido pelo nome “falso” que usava na clandestinidade. Confesso que nunca percebi porquê. Vil e cobardemente assassinado pela PIDE em 1945, aos 28 anos de idade. Há muitos outros. Desde Bento Gonçalves, Ferreira Soares, Militão Ribeiro, Álvaro Cunhal, Dias Coelho, e muitos outros anónimos, que lutaram pela liberdade.
Mas, em Portugal, por outro lado, homenageiam-se fascistas ao mesmo tempo que se esquecem outros nomes, embora mais distantes na História. E, se for verdade que a dimensão da pátria se vê pela estirpe dos heróis que reconhece…bem… penso que Angola ainda entrará nos eixos… mas Portugal está sempre a tempo.
Deixo-vos um poema de Rui de Matos:

Procuro um leão

Ando à procura de um leão
que não seja muito grande,
que seja terrível na luta,
que o temam e o amem.

Quero fazer o retrato de um leão
de olhar doce,
de sorriso franco,
um leão alegre,
sem reservas.
Um leão imenso
no seu amor.
Chamá-lo-ei
HOJI-IA-HENDA

Procuro um leão
um leão generoso
que divide o seu pão
e que dá a vida.

Procuro um leão
duro e implacável
com os seus inimigos…
esse leão
doce e humano
amigo e simples
chamá-lo-ei
HOJI-IA-HENDA

Ando à procura de um leão
que sorria da derrota
com tanta fé na vitória.

Procuro um leão
que seja temerário
um leão amado
um leão temido,
chamá-lo-ei
HOJI-IA-HENDA

Hei-se procurá-lo
na terra
procurá-lo
no mar
procurá-lo
nos rios
procurá-lo
nas chanas.
Hei-se encontrá-lo em Angola,
Farei o seu retrato,
Chamá-lo-ei
HOJI-IA-HENDA

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