quinta-feira, 7 de outubro de 2010

América latina… e um café!

por Augusto Alberto


Há perto de 40 anos conheci um brasileiro que me disse que não podia ser um bom comunista porque gostava muito de mulheres. Com calma, disse-lhe que não era bem assim. Sobre os comunistas muita coisa foi e ainda está decretada, mas impedi-los de gostar de mulheres, nem mesmo quando estiveram ou ainda estão presos. Lembrei-me deste desabafo, a propósito do último golpe de estado no Equador. E porquê? Porque uma “democracia” que sucessivamente forja golpes de estado, não pode ser uma boa “democracia”. Nem um “Nobel da paz pode ser Nobel da paz”, quando não tem competência para ordenar à sua “democracia” que respeite as outras.
O fim da experiência socialista foi há mais de 20 anos. O muro caiu logo. A guerra-fria, decretaram, tinha acabado. Mas ao cabo de mais de duas décadas, o mundo passou de frio a quente. O neo-liberalismo tomou o freio nos dentes e, afinal, em vez da sociedade do leite e do mel gerida por maviosas sereias, o mundo afunda-se na globalização, enorme fossa abissal, infestada de predadores que o sangram e chupam.
De lá para cá, quero aqui recordar. A bancarrota na Argentina. Lembro-me bem de uma família acampada em frente a um banco com sede em Londres, que gritava pelas suas economias e que convencida de que as tinha perdido, ameaçava que no dia em que recuperasse, iria a Londres, e em frente à sede do banco ladrão, montaria tenda e denunciaria o saque. Não creio que esta família alguma vez tenha recuperado. Quando muito, ganhou para uma nova tenda. De bancas rotas, falemos do paraíso islandês ou do notabilíssimo tigre Celta, como cópia a considerar, como nos foi vendido, devorado pela agiotagem. E ainda a Grécia e, quem sabe, esta Lusitana pátria, com mais de 800 anos.
De golpes, este do Equador foi só o último de uma lista onde cabe o Iraque, em que a mentira foi o instrumento necessário para avançar para o saque. O do Afeganistão, embora neste não era bem isto que se desejava, mas outra coisa bem ali ao lado. Só que as alianças conjunturais, às vezes dão em lamaçal. Na América Latina houve um penúltimo, nas Honduras. Na sua preparação, jornalistas sérios, foram arreados a tiro. E é bom lembrar, ainda, os prisioneiros de Guantanamo, base militar, pedaço de Cuba, (terra, ao contrário do que se julga, as pessoas vão a votos), onde o império guarda em cercas de arame farpado e calor, os direitos humanos e presos sem culpa formada. E também nas prisões secretas na Roménia e Polónia, há vinte anos, o pior do comunismo.
Evidentemente que neste golpe militar no Equador, desta feita, algo correu mal, ou pode ser só que os povos ao cabo de tanta desgraça, lá vão tomando algum tino, a marcar uma velha realidade, se o somarmos ao que sucedeu há uma semana na Venezuela. É que na América Latina a esquerda joga sempre o jogo da democracia parlamentar, muito ao gosto. Ganha e perde. Mas a direita democrática, nunca gosta de o jogar, ao contrário do que diz. Antes pelo contrário, tem predilecção por mostrar as botas cardadas e os fuzis. E também muita da democrática imprensa, coloca-se em linha e faz a sua opção. Ou seja, tal como a raposa quando passa, sem olhar, por vinha vindimada, gosta pouco de falar sobre as cardas das botas dos seus.
Ou seja, se bem os interpreto, direi, que dirão que a democracia se aplique aos outros, mas para eles, logo se verá, desde que não compliquem. Pois é!
Já sei que alguém virá aqui dizer que ando para aqui armado em democrata, mas que tenho um amigo que é um ditador. Tenham paciência, às vezes esse meu amigo anda tão aflito, que até lhe tenho de pagar o café.

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Continuas fiel aos teus ideais e assim deve ser.
bj

Olímpio disse...

Caro sr Alex Campos.Queira telefonar ao nosso amigo Agostinho, porque o susto já passou.
Com estima.
Olimpio