domingo, 11 de maio de 2014

Querubins

Augusto Alberto
    
Eu bem sei que não há cão nem gato, nem povo, que não goste de ser reabilitado. Todavia, neste país, a reabilitação apanha, sobretudo, os fascistas de antanho, enquanto os cães na minha rua, alguns, caminham cambados, suportados por 3 patas, quase sem pelo e sem vianda, para suportar o dia de cão, enquanto os gatos, se acantonam em cima ou por debaixo do contentor do lixo, na esperança de ter o que esgravatar e para se defenderem, dos cães e dos homens, que gostam de os apedrejar.
E os homens caminham taciturnos, de casa para o trabalho e do trabalho para casa e depois para a cama, convencidos de que acordar vivo já é uma bênção. Parca bênção, porque acordar pela manhã não é condição única para haver dignidade. Para haver, é preciso ter, paz, pão e habitação. E liberdade. Liberdade, a gente ainda tem uns laivos, é certo, mas é mal utilizada. E porquê? Porque demos, por exemplo, a fina oportunidade a um ministro fascista, entre 1970 e 1974, no governo do professor Marcelo Caetano, de ser reabilitado e de ter chegado, por duas vezes, a ministro da “democracia”.
E ainda permitimos que um católico charlatão, tenha a oportunidade de fazer o panegírico do fascista Simão, apesar de aborrecido pelo facto do Simão não ter caído no CDS, de que agora é presidente, mas no Partido Socialista. Outro “democrático” anacronismo. Ou talvez não, porque o Partido Socialista, reabilitou, não um fascista, mas vários. Sobretudo, os “querubins”, Simão e Amaral, e outro quase, Horta. Ora acontece que a “democracia”, nunca deve servir para reabilitar homens, que depois se esquecem, que torturam em larga escala, outros homens. (No Tarrafal, encerrado em 1954 e reactivado em 1961, sob a denominação de Campo do Chão Bom, pela portaria n.º 18.539, de 17.6.1961, era ministro do ultramar, o reabilitado Adriano, para receber prisioneiros oriundos das colónias. E entretanto, em Moçambique, 1969, Mondlane é abatido. E na Guiné, 1973, Amílcar Cabral também). E na metrópole, o pintor Dias Coelho, é fuzilado à porta de casa, a 19 de Dezembro desse mesmo ano de 1961. E agora leiamos, como foi reabilitado, em plena democracia, o PIDE que o matou.
Diário de Notícias,  6 de Janeiro de 1977.
O antigo agente da PIDE/DGS António Domingues, responsável pela morte do escultor comunista José Dias Coelho, foi, ontem, condenado em três anos e nove meses de prisão maior. Perdoados 90 dias e tomado em conta o tempo de prisão preventiva que já sofreu, desde 1974, vai o réu cumprir apenas mais cerca de 10 meses de cadeia. O tribunal (3ºTMTL) considerou não ter havido homicídio voluntário, mas apenas “ofensa corporal voluntária, de que resultou a morte “praeter-intencional”. Dado como provado o disparo de dois tiros, o último dos quais com a arama “muito próxima da roupa da vítima, a sentença foi recebida pela assistência com uma manifestação de protesto.

Arrepanhe-se, então, o Simão, o “querubim”que já partiu, mais os outros, que a seguir irão, cuja reabilitação, andou de par, com a vitória da contra-revolução, que dá no que a seguir se escreve. “Rosa…doente de cancro, com graves problemas de mobilidade…teve alta do Hospital Joaquim Urbano…foi parar, desamparada, às escadas da igreja do Carvalhido... (ocorrem-me as histórias da igreja da candelária, no Rio de Janeiro) …aguentou-se ali…até ser transportada pela polícia, para um quarto numa pensão de Cedofeita, arranjado pela…Segurança Social, que lhes cortara o rendimento social de inserção, deixando-os sem capacidade de pagar uma renda”.

1 comentário:

Olímpio disse...

Permitam-me o abuso em pedir-os apoio para o festival dos cabeleireiros, no próximo dia 1 de Junho, no Casino da Figueira da Foz
Para alguma imformação
www.olimpiofermamdes.blogspot.com
A cidade agradece eu também.