Os portugueses estão na iminência de eleger um analfabeto para o cargo de primeiro-ministro. Não será caso para entrar em depressão, pois não é preocupante. Primeiro porque não será, de todo, caso inédito. Segundo, os antecedentes conhecidos levam-nos a pensar que os governantes não são mais do que figuras quase decorativas ao serviço de quem detém realmente o poder.
Com um programa já delineado e bem definido, não são precisas ideias nem discussões acerca da política a implementar pelo novo governo. A actual campanha eleitoral tem mostrado isso mesmo.
Portanto, com freeports ou sem freeports, com bpn’s ou sem bpn’s, com submarinos ou sem submarinos, com estradas de Portugal ou sem estradas de Portugal, qualquer que seja o futuro primeiro-ministro a realidade é que a electricidade e o gás vão deixar de ser artigos de primeira necessidade e pagar imposto como se fossem artigos de luxo. O que irá fazer aumentar o desemprego pois haverá muitas pequenas e médias empresas que não aguentarão o embate. Para não falar nos orçamentos de milhares de famílias.
Mas voltando ao analfabetismo, alegremo-nos. O próprio presidente da “maior nação democrática” do mundo não tem necessidade de não ser analfabeto. Eles não escrevem os próprios discursos, limitam-se a ler o que alguém lhes escreve e a dizer o que lhes dizem para dizer.
Um exemplo é-nos descrito por Rui Mateus, no seu livro “Contos proibidos - memórias de um PS desconhecido”, publicado em 1996. Vale a pena ler:
(…)
“No dia 7 de Maio seria chamado de urgência a São Bento. O primeiro-ministro estava em polvorosa. Dois dias depois chegaria a Portugal o presidente dos EUA e o primeiro-ministro acabara de ter conhecimento de que o discurso que aquele dignitário iria fazer na Assembleia da República era altamente elogioso para o presidente Ramalho Eanes. “Não pode ser” – dir-me-ia Soares – “afinal contratamos aqueles gajos para nos ajudar e depois fazem uma gaffe destas”. Para Soares, os elogios a Eanes, para além de desagradáveis por se tratar de Eanes, constituíam uma nota negativa nas suas aspirações presidenciais. Ele é que era o amigo dos americanos e ao ser ignorado pelo presidente dos Estados Unidos, em Portugal, representava uma não ingerência altamente favorável a Freitas do Amaral. Eu entraria imediatamente em contacto com Paul Manafort que compreendeu a “aflição” de Soares. Mas também viu aqui uma boa oportunidade de demonstrar a sua influencia em Washington, entrando em contacto imediato com Bud Mac Farlane, o poderoso conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, e no dia seguinte receberia confirmação de que o discurso que o presidente dos Estados Unidos iria proferir perante a Assembleia da República, tinha sido convenientemente modificado. Reagan falaria da liberdade, de Winston Churchill, de Lincoln e dos pastorinhos de Fátima mas não mencionaria uma única vez o seu homólogo, Presidente da República Ramalho Eanes. Pelo contrário, no almoço que o primeiro-ministro lhe ofereceria em Sintra, Reagan saudaria com grande entusiasmo a “coragem e liderança do primeiro-ministro”.
(...)
Só não me quero conformar com uma máxima que ouvi há muitos anos: “O papel histórico do povo é aplaudir os vencedores”.
Porque o povo pode ser, ele próprio, o vencedor.
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