quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A elite revanchista

Augusto Alberto


A elite reaccionária e revanchista está a ajustar as contas com a história e os seus mais credíveis defensores exultam. O povo domesticado há séculos, não percebe que o ajuste é com tudo o que foi ganho com o 25 Abril, muito no chamado Gonçalvismo, modo ideológico muito agressivo de justificar a revanche. A elite que não esquece, só consegue viver achincalhando o povo e, esperta, escolheu para ponta de lança, entre um menino de coro, bem ataviado e uma avô desprendada. O povo foi levado, e então?

Então o que o país, sobretudo do interior, ganhou com o poder local vai perder à conta da rábula da reforma administrativa. Vai ficar à mercê dos mais espertos caciquinhos. Por ora, depois do fecho da ferrovia, acabará também por perder o transporte rodoviário, porque a população que já não enche uma carruagem, também não encherá um autocarro. Em Trás-os-Montes há já doentes oncológicos que não dispõem do transporte para irem em tratamento ao Porto ou a Coimbra. É de todo conveniente que morram sem alaridos, para que não se some ao fecho do posto de correio, o próximo é tão longe que as pessoas de tão exauridas, já se arrastam para ir levantar a vianda, e ao fecho da escola primária, e do centro de saúde. Só não vê quem anda distraído, que se as boas estradas dão para chegar, dão sobretudo para partir.

O ordenado mínimo, o 13º e 14º mês, que foi um meio de elevar os baixos salários, nunca mais voltarão. O povo que ganhou acesso a bens e serviços, fica desde já a saber que quem pode, vai pagar para ter saúde, quem não pode, não pode…que se foda! Na escola, que apesar de algumas opções discutíveis, hoje, com o esmagamento da auto-estima dos professores, uma sala de aula pode ser um lugar em que um meio bandido poderá sair bandido inteiro, tal como se diz para a prisão, em que se sai mais bandido do que quando se entrou. O edifício jurídico no mundo do trabalho, que trouxe mais equilíbrio, tomba, agora, para o mesmo lado. Espera-se o fim da contratação colectiva e dos órgãos de direcção dos trabalhadores. O funcionário público que durante o ocaso fascista, era uma espécie de bobo da república, tinha de esperar que o Salazar acordasse bem disposto, e isso era coisa que poderia suceder de 10 em 10 anos, para ter o magro aumento salarial de 1 tostão. Sabem quantas partes do euro valeria hoje um tostão? Não façam contas, não a vale a pena. A dignidade ganha acabou. E por fim, a independência! Ninguém nos perguntou se queríamos o euro e o tratado de Lisboa. Porque a democracia nos mandou para o caralho, hoje mandam no governo e em nós, banqueiros facínoras.

No Portugal profundo, o povo das horas mortas, que já são mais do que as horas vivas, vai vivendo com uma cerveja na mão e a barriga encostada ao balcão, enquanto, em Novembro, os militares da terceira via, deram o 1º passo, e de seguida, os descendentes do fascismo, como Sá Carneiro, Cavaco e os amigos, mais os do socialismo de rosto humano, do socialismo em liberdade, o socialismo engavetado, estão-nos a levar ao haraquiri.

E eu interrogo-me: como é possível, povo, não reagires à canalha que destruiu a produção, enriqueceu com a economia de casino e agora ainda decreta o teu empobrecimento em ordem a manter, ainda e sempre os seus privilégios?

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