tangencialmente assim
na ambivalência das distâncias
o silêncio dos mortos
odes rasgadas no fundo
do mais fundo tempo
nos jardins das cruzes
plantadas sobre silêncio
e há-de vir em coro
cantado tocado e chorado
rompendo por sobre nuvens
de fumos e álcoois vaporosos
e há-de ser ouvido
o silêncio dos mortos
vindos da latitude longe
e o rasgar silvante
de ponta em aço e fogo
há-de ser entendido
só então se atingirá
luther king morto pela paz
das armas disparadas
silêncio da carne apodrecendo
mas de voz perpetuada
e os outros também dirão
da história de corpos anónimos
- tangencialmente assim
na ambivalência das distâncias
gente mártir da liberdade
o silêncio dos mortos
cantados tocados dançados
ritmos de protesto
tintos de sangue derramado
nas pontas das baionetas
e no ínterim dos carros patrulhando
por entre os tanques enfileirados
e gases e fogos ateados
o silêncio dos mortos
como aleluia de paz
até nas noites das buates
no remanso dos teatros
em tudo que será festa
o silêncio dos mortos
no aço em fogo da metralha.
Ruy Burity da Silva (poeta angolano)
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